Serial Frila: dezembro 2005

27 dezembro 2005

"... two for you"

(publicado originalmente em 27 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 24 de novembro de 2006)


Quem assiste a muitas séries também acaba assistindo a muitas propagandas, certo? A gente então vai se acostumando a algumas, de tanto assistir, e aí o raio daquela maldita musiquinha não sai mais da cabeça. Então, vamos falar sobre "malditas musiquinhas" que a gente ouve direto e quer saber de onde vêm. Assim como na coluna anterior, posso adiantar que a safra atual está baixa, porém marcante.

This picture is hosted by ImageShackAntes de tudo, você reparou nos títulos desta e da última coluna? Isso acontece com jingles que são bem-trabalhados de verdade: agradam, fazem sucesso, criam uma movimentação na internet e acabam virando parte da cultura pop! Pois é, todo mundo que eu conheço adorou a propaganda do Ford EcoSport e sua musiquinha (com letra "adivinhada" por minha conta):

"One for me, two for you.
Everybody's gonna play a
miny-miny-miny-mo
(*)
Yes or no, don't or do,
I want both
But my choice is you
"

(* sei lá se é isso mesmo, mas "eeny-meeny-miny-mo" é realmente um jogo de adivinhação)

Ela se chama Choices e foi feita exclusivamente para a campanha, cujo nome é Escolhas. Pra baixar uma versão limpinha dela "toda" (são só 50s), vá ao site da Ford munido de Flash na sua máquina. De cara, aparece uma opção pra baixar.

Fora ela, a atual "mais-mais" dos intervalos você já deve conhecer de outros tempos: David Bowie canta Heroes na campanha "heróica" da HBO. Trata-se de um clássico do cara, da música, do glam rock, dos anos 70 - ou o famoso clássico absoluto. Além da oficial, existem algumas versões dignas de nota. A melhorzinha vem dos Wallflowers, banda de Jakob Dylan, filho do "outro cara". Há uma do Oasis, banda da qual até gosto, mas cuja versão não ficou assim uma Brastemp. Noel Gallagher é quem canta e acabou tirando muito do clima épico da original. Por último, os novaiorquinos do Interpol também gravaram uma versão catacúmbica de Heroes. Apesar de a banda ser uma das coisas boas da nova cena rocker, sinceramente essa versão não decola nem pro caramba...

This picture is hosted by ImageShackOs destaque, entretanto, vão para os comerciais de perfume. O "troféu quantidade" vai para a Hugo Boss, sempre com trilhas interessantes casando com o público-alvo de cada perfume. Uma em particular (do Boss Soul - perfume masculino com uma senhorita gemebunda: tudo a ver) tem deixado o pessoal bem curioso e também criou uma certa discussão na internet. A letra diz "Ride my soul, I won't run the risk to let you", e ninguém sabia de onde veio isso. O melhor palpite dizia que aquela seria a voz de Cerys Matthews, da semi-extinta banda Catatonia (não confunda com o pessoal do Katatonia). Parece bastante mesmo, mas a verdade é que, infelizmente, o tal trecho foi criado especialmente para a ocasião pelo produtor Patrick Roumegoux e não existe em versão estendida. Mesmo assim, foi batizado como Toxine. Quem sabe? Às vezes, podemos ter boas notícias num futuro próximo.

This picture is hosted by ImageShackA linha Baldessarini, também da Boss e voltada pros mais velhos, foi buscar o clássico Beyond The Sea para o comercial em que um tiozinho dirige uma lancha do tamanho dum aeroporto (na foto, o ponto insignificante no alto é o tiozinho). Essa você já deve conhecer, mas há uma curiosidade legal sobre ela. A versão que toca não é aquela famosa, cantada por Bobby Darin, que fechava Finding Nemo e deve fazer parte de dezenas de trilhas sonoras. Mas é quase isso! Trata-se da voz do grande Kevin Spacey (Beleza Americana, K-Pax), que viveu Darin na recente cinebiografia do cantor e fez questão de regravar e cantar ele mesmo todas as músicas do filme. E o cara leva muito bem! Confira no filme, quando finalmente resolverem lançá-lo no Brasil. Importante: além de interpretar todo o repertório e estrelar, o renascentista Spacey escreveu, dirigiu e produziu o filme!

Ainda nas campanhas da Boss, há aquela propaganda do cidadão que não gosta de se produzir muito e assim resolveu rabiscar "your fragrance, your rules" na palma da mão. Sob o forte sotaque britânico do camarada, temos um fundo musical que nem chama muito a atenção.

This picture is hosted by ImageShackHá uma última peça digna de nota nesse sentido, mas não está mais no ar. A propaganda do Boss Intense trazia um "chill-out" com um negócio de "stream of stars and air through my hair" ou coisa assim. Sim, adivinhou, é um perfume feminino. Apesar das suspeitas de que essa música não estaria em CD algum, a verdade é que está em pelo menos dois. Chama-se Soulcleansing, e o povo responsável (difícil dizer "banda" hoje em dia) é um tal de Tanga - dois músicos austríacos e uma cantora asiática. Em 1999, ela foi lançada em um CD bastante obscuro de nome Finesse, disponível apenas pra download. Mais recentemente, por força do comercial, teve seu nome modificado para Intense (Soulcleansing) e foi relançada em um EP também chamado Intense. Ambos trazem a música em versão completa, com direito a uma moça miando em chinês.

Enquanto a Boss ataca no montão, a melhor de todas as trilhas para perfume acabou ficando com a concorrência. Para a propaganda do perfume Essential, a Lacoste escolheu a voz de Leslie Feist, uma cantora jovem e já veterana, que hoje se apresenta apenas como Feist e lançou seu primeiro disco 100% solo em 2004.This picture is hosted by ImageShack A deliciosa Mushaboom, que está nele e no comercial, tem uma letra leve, falando da vontade da cantora de envelhecer feliz ao lado de seu companheiro numa cidadezinha bucólica chamada Mushaboom. Pra lembrar, os versos na propaganda são "I got a man to stick it out / And make a home from a rented house / And we'll collect the moments one by one / I guess that's how the future's done". Essa vale muito a pena. Vai caçar!

Na outra propaganda da Lacoste, para o Touch of Pink, uma moça sai pra rua atrás de uma pipa cor-de-rosa ou borboleta ou coisa fresca que o valha. A música meio insossa é cantada por aquela mesma modelo que aparece ali, a dinamarquesa Natasha Thomas, que também cantava a trilha da campanha anterior. Na de antes, era Let Me Show You The Way (bem melhorzinha), agora é Skin Deep. Houve outras, mas não lembro se passaram no Brasil. Thomas é, atualmente, a cara e a voz do perfume, mas, enquanto ela é realmente linda, as faixas não empolgam muito...

This picture is hosted by ImageShackAinda que a música propriamente dita não ganhe tanto destaque, não posso deixar de mencionar a campanha nova da Motorola. Dona Madonna e sua canastrice de costume integram a estrelada propaganda do telefone Motorola ROKR, num ótimo conceito. Antes, a única forma de combinar um monte de artistas com o seu telefone seria espremendo todos numa cabine telefônica. Agora, o telefone tem iTunes e a tarefa ficou mais fácil. Quer uma lista com todo mundo (ou quase?) que aparece ali? Veja nesta página e aguarde outras propagandas na mesma linha, porque mais gente assinou com a companhia. O legal da música de fundo, também da Madonna, é que ela se chama Hung Up, um trocadilho que mistura "desliguei o telefone" com "ligadona em você".

Sim, prezados canais, nós também vemos propaganda. Mas sou só eu ou ninguém mais agüenta ouvir falar em "meias do Pinda" e pirralhos berrando "quíli"? Nessas horas, é mais saudável mudar de canal e descobrir algo legal passando a um dedo de distância. Os senhores deveriam perceber isso. E alguém, por favor, jogue Fernanda Abreu do alto do Corcovado.
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20 dezembro 2005

"One for me..."

(publicado originalmente em 20 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 7 de novembro de 2006)


"Música pop em séries de TV" é o típico assunto rico, constante e recorrente da cultura pop. Isso porque quantidades cavalares de séries vêm e vão a cada seis meses (capítulos idem), e a relação que elas têm com a música é a mesma que existe entre sua unha e o seu dedão. Inclusive nem pretendo me estender demais sobre esse assunto, porque não esgotaria o tema nem em 20 colunas. Além do mais, não assisto a tudo, e com certeza alguma coisa interessante vai ficar de fora. Mas vamos a algumas pinceladas.

This picture is hosted by ImageShack This picture is hosted by ImageShackAtualmente, a safra até não está das melhores, mas dá pra destacar algumas faixas e curiosidades. Antes de tudo, dois esclarecimentos: The OC traz, sim, bandas novas a rodo, mas não faz parte da minha grade; e, a essas alturas, todo mundo já sabe que o Who toca as músicas de abertura das três C.S.I.. Em tempo: não existe "o The Who" nem "o The Doors" ou "o The Cure", assim como não existem "os The Beatles" do Casseta & Planeta por motivos óbvios!

Ok, em frente.

This picture is hosted by ImageShack Mais uma coisa que já deve estar perto do óbvio é que Zach Braff, o JD de Scrubs, é um fã declarado do músico Colin Hay, ex-líder da banda australiana Men At Work. Digo isso porque o espectador mais assíduo da excelente telessérie vai se lembrar de um trovador que aparecia durante todo o episódio de abertura da segunda temporada ("My Overkill") e tinha seu violão destruído no fim. O homem era exatamente Colin Hay, e a música era Overkill, sucesso indiscutível nos anos 80 com o Men At Work. A trilha original de Scrubs traz mais material de Hay, conforme podemos ver aqui, assim como a trilha escolhida a dedo para o belo filme Garden State, escrito, dirigido e estrelado por Braff.

Enquanto estamos em Scrubs, é bom ressaltar que o tema de abertura dela existe como "música inteira". A letra casa bem com a série, sugerindo que médicos são humanos, falíveis e sensíveis, e não super-homens. O nome da faixa é exatamente Superman, tocada por Lazlo Bane. Parece nome de gente? Pois é uma banda que Braff já conhecia desde bem antes da estréia! A primeira temporada abria com um refrão da música, mas a segunda usava outro, mais arrastado. Só pra esclarecer...

Fechando o círculo, junte esse mesmo Lazlo Bane àquele mesmo Colin Hay e teremos uma ótima versão para a velha Overkill. A "nova" gravação (que é de 1997) unindo os intérpretes da música-tema de Scrubs e o trovador preferido do astro da série não foi feita especialmente para uma trilha sonora, mas bem que poderia ter sido. Legal essa coincidência, né?

This picture is hosted by ImageShack Falando em assiduidade e excelência, você que é fã de Two And a Half Men presenciou há pouco tempo uma das melhores tiradas da série até hoje - diabos, com certeza uma das melhores dos últimos tempos.

Charlie é o único homem numa festinha gótica só de mulheres ("bruxas", diriam elas). É dopado e carregado pelas mulheres para uma sala onde ele será ungido e, quase sem querer, fará parte de um ritual que, claro, inclui montes de safadeza. Enquanto o carregam, elas entoam em conjunto "Annoint him, annoint him, annoint him...", ou "untem-no", em português. Ele, trola cheia, começa a cantar algo por cima.

A música em questão é um hit dos anos 70 chamado Hooked on a Feeling, que uma porrada de gente já gravou, incluindo Vonda Shepard, a cantora de Ally McBeal. Procure a versão gravada pelo grupo sueco Blue Swede e veja por que eu quase tive um filho de tanto rir naquela hora.

Aliás, de quebra, você também vai se lembrar do fenômeno de internet "Dancing Baby", que rolou há uns anos e ficou famoso justamente pela mesma Ally McBeal. Ainda corre o risco de querer ver Cães de Aluguel de novo, o que nunca é demais. Pra completar, vai se lembrar da saudosa primeira temporada de That '70s Show, com uma vinheta em que os caras inalavam hélio e cantavam o refrão dessa música com voz de pato.

This picture is hosted by ImageShackA versão do Blue Swede já foi milhares de vezes atribuída à grande banda de hard rock setentista Grand Funk Railroad. Com certeza, não são eles. Mas como as séries legais também adoram (a boa) música velha e reconhecem seu valor atemporal, o GFR tem grandes chances de aparecer em outra ótima série, a nova Supernatural - se é que já não tocou.

A trilha sonora desse excelente seriado de terror é toda calcada em "mofo-metal" e rock pesado em geral, com ênfase nos clássicos, o que deve significar sucesso garantido aqui neste Brasil parado no tempo. No primeiro episódio, Dean Winchester explica a seu irmão mais novo, Sam, que no carro ele só tem fitas (nada de CDs) com aquele estilo de música e que é aquilo o que eles vão ouvir durante suas viagens. Isso serve como desculpa pra uma trilha sonora de qualidade que já nasce com o jogo ganho e, convenhamos, casa muito bem com a temática da série.

Nas palavras de Sam, indignado, "Black Sabbath? Motörhead? Metallica? It's the greatest hits of mullet rock!". Além desses luminares, já tocaram por lá AC/DC, Free e Iron Butterfly, entre outros.

This picture is hosted by ImageShackEntretanto, nem todo uso de música velha é bem-feito. A estreante Reunion era até boazinha, mas já foi cancelada sem qualquer consideração pelo pessoal do lado de cá. Tinha proposta e história interessantes, mas talvez tenha sido podada por apostar demais no formato do dramalhão cheio de clichês. Um deles era justamente a parte musical.

Os produtores e escritores tinham uma necessidade imperiosa de ilustrar cada ano da série com dois ou três hits absolutamente óbvios daquele ano. Sabe, aqueles mais conhecidos mesmo, que tocam nas rádios brasileiras como novidade até hoje.

Será que o zeitgeist é tão difícil de captar que eles tiveram de retratá-lo assim, sem criatividade, desse jeito fácil e ineficaz? As formas sutis de falar e de pensar, as roupas, os programas, as pequenas modas, as famílias, tudo isso com base em uma boa pesquisa e um reforço no roteiro renderia um background mais fiel, mais instigante. Quem sabe até poderia gerar ganchos bons, razões e desenrolares possíveis apenas pelas circunstâncias da época. Não, "põe aí um megahit de 1989 e, pronto, o espectador vai se sentir imediatamente levado àquele ano" - a prova maior da preguiça dos realizadores é que o uso de diversos outros clichês morreu depois de dois ou três episódios. Mantiveram só as músicas como um "certificado-pé-no-peito" de estarmos em determinado ano. Enquanto isso, o mesmo espectador sente sua inteligência levemente ofendida, e a série roda.

This picture is hosted by ImageShackVamos continuar nas estreantes e tocar na simpática Related. Opa, outra pedra no caminho... A produtora Marta Kauffman, que já tinha derrapado feio na escolha da péssima música de Joey, acabou elegendo para a abertura dessa nova série uma cópia descarada e enganada. Explicando: lembra da música que fecha o filme Mean Girls? Era um cover de Billy Idol (velharia de novo, pô?) tocado por uma competente banda de garotas chamada The Donnas (foto ao lado), uma versão bem legal, aliás.

As Donnas estão na estrada há algum tempo, já têm seus discos lançados, ganharam alguma notoriedade há poucos anos com uma grande cover do Kiss (entre muitas outras) e músicas próprias enérgicas, bem assertivas da postura autêntica da banda. E então nossa amiga produtora aparece com uma duplinha fabricada até o talo, chamada The Veronicas, chupinhando o estilo das moças em todos os aspectos, numa música encomendada e pré-formatada pra dar certo (como aconteceu em Friends com os Rembrandts).

Ok... "The Veronicas"?? Ouvi, achei fraquinha e notei a semelhança de pronto. Mas havia um ar de "comprei minha atitude babaca no shopping" à la Avril Lavigne que não condizia com o estilo das Donnas. Vim procurar. Eram outras garotas, cheias de pose de rebelde, criadas no Chambinho e dotadas da sorte mercadológica de serem gêmeas bonitinhas num mercado geralmente pouco preocupado com a música. Como atitude não se empresta, não se ensina e adquire-se com caráter e experiência, resolveram copiar... começando pelo nome! Espero sinceramente que role processo. Antes Kauffman tivesse ficado com as originais, que estão longe de ser o máximo da maravilha, mas ralaram pra construir uma banda verdadeira sem padrinhos escancarados - e em se tratando de qualidade, que é o que importa, estão léguas à frente.

This picture is hosted by ImageShackVamos terminar de maneira mais agradável e com outro acerto. A profundamente inqualificável série Nip/Tuck, além de ótima, tem um tema bastante interessante. Só não consegui descobrir até hoje quem é The Engine Room. Tem cara de coisa de DJs europeus. Aliás, a música-tema A Perfect Lie tem diferentes versões e parece que a "correta" seria justamente um remix estendido. Vai saber... Na prática, esse pessoal tem alguma ligação misteriosa com a banda Remy Zero (que toca o chatinho tema de Smallville, a música Save Me).

Sabe, o que eu queria mesmo eram as versões integrais, se é que existem, das músicas de "abertura" e de "portfolio" do bloco [adult swim], do Cartoon Network. A primeira é uma espécie de trance com um som de locomotiva misturado a uma gaita nervosa ou coisa assim. A segunda é um pop-rock com uma guitarra algo psicodélica. Deve ser tudo feito sob encomenda... Pena... This picture is hosted by ImageShack

16 dezembro 2005

Warnerismos

(publicado originalmente em 16 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 26 de setembro de 2006)


This picture is hosted by ImageShackUm "warnerismo", em definição por nossa conta, seria o ato de cometer uma quantidade incrível de pequenas besteiras durante a programação segundo o modelo já ditado e constantemente reafirmado pelo canal Warner. O objetivo disso, diríamos, é deixar transparente que o canal está se lixando para a própria programação e para os espectadores constantemente desrespeitados.

O conceito não envolve mera estupidez. Se fôssemos falar disso, acho que nenhum canal a cabo chegaria aos pés dos canais abertos, cheios de telebarracos e "galera maneiríssima aprontando todas". Estamos falando de desleixo, descuido, "não estamos nem aí pro que vai ao ar" mesmo. São as pequenas cagadas profissionais durante a programação, algo como o policial atirar no pneu da viatura, o médico prescrever a receita em inglês ou um jornalista noticiar filme da Família Monstro e, na resenha, descrever a Família Addams (o que acontece com mais freqüência do que gostaríamos...).

This picture is hosted by ImageShackUm exemplo claro de warnerismo, já que estamos em "modo dicionário": num episódio não muito distante de ER, ocorre um diálogo entre os médicos Carter e Ray (foto ao lado).

(Carter chega):
"Hey, what are you doing?"
(Ray, brincando com a guitarra):
"Just chillin'..."

Tradução real da coisa:
"Oi, o que você está fazendo?"
"Dando uma relaxada..."

Tradução da Warner:
"O que você está fazendo?"
"TOCANDO O CHILI" (!!!)

Precisa dizer mais? Precisa. Um erro jamais justifica outros não-relacionados. Todos nós, humanos, os cometemos eventualmente, e a maioria acaba aprendendo algo. Mas não a Warner.

Naquela mesma série, warnerismos recentes nos apresentaram o ator John "Leguizano" como novidade do elenco, assim como um personagem chamado "Doutor Kovaque". Aquela bobagem velha de "estamos no Brasil" nunca valeu, claro... Ninguém razoável diz "Giselle Búndichen" ou "Jorge Clônei", e isso é ainda muito mais importante em um canal de TV cuja programação é 100% importada. Tudo bem, ainda assim, reconheço que isso é pouca coisa. Vamos aos pesos-pesados.

Que tal a célebre chamada de Cold Case? Enquanto o áudio dizia "Este é o detetive Scotty Valens. Ele faz isso e aquilo, ele é assim e assado...", o vídeo mostrava exclusivamente cenas da personagem principal, Lilly Rush, em ação. Agora, imagina: "Fausto Silva não dá moleza e agita todas nooo... Sabadão Babacão!". Enquanto isso, o vídeo mostra uma montagem com cenas de Minority Report, que vai ao ar dali a duas semanas num Supercine qualquer. Vovô e Vovó se entreolham horrorizados e se perguntam o que está acontecendo com a TV, enquanto alguém lá no Rio vai pra rua por permitir esse "pequeno engano" no ar durante um mês.

This picture is hosted by ImageShackMais? Todas as séries novas da Warner "estréiam hoje", segundo suas chamadas, independente do dia em que elas sejam transmitidas; na última coluna, falamos da série "colombiana" "Invasión"; na primeira temporada de Joey, nosso amigo narrador deu ao personagem o sobrenome "Tribbaini", sendo que esse mesmo sobrenome foi usado no primeiro episódio da série propositadamente como algo errado, e o personagem ainda reclamava algo como "Custava dizer certo o meu nome? É Tribbiani! Tribbiani!". Bom, o mesmo narrador costumava chamar um outro programa do canal de "Bacherolette"... No fim, a culpa nem é dele, mas de algum eventual diretor de TV (existe algum na Warner?), que deixa passar essas coisas no texto e depois na locução.

As propagandas em portunhol já são coisa comum, mas nem por isso deixam de ser um desrespeito ao espectador. Você imagina a Globo ou o SBT veiculando erros grosseiros como aquelas misturas incompreensíveis "nem lá nem cá"? Óbvio que errar faz parte da condição humana. Eu mesmo, o colunista aqui, tenho a obrigação de revisar este texto quando o termino e assim garantir que ele saia com um mínimo de erros, que efetivamente ocorrem aos montes enquanto escrevo. Mas um canal de TV (cheio de gente) não conseguir cuidar da sua própria programação dada de bandeja quando essa é a única tarefa que lhe cabe, aí é outra história.

Não importa aqui a questão da qualidade, do conteúdo, não é disso que estamos falando. Os problemas são de formato, de arestas, de pequenas coisas importantes que contribuem para a respeitabilidade (ou não) do canal. Meu Deus, o que dizer da vinheta sonora que encobre diálogos das séries a cada retorno dos comerciais? A mesma "musiquinha" era usada antes, na entrada e na saída dos comerciais (aquelas da última coluna, lembra?), de forma muito mais inteligente, exatamente como o "plim-plim" da Globo ou vinhetinhas de "Estamos de volta com o filme X", de um SBT.

As legendas costumam pecar miseravelmente, e qualquer um que acompanhe séries e saiba bem inglês percebe isso. Nos comerciais, então, chegam a ser risíveis. O exemplo lá em cima é só isso, mero exemplo num universo de outros. O que se passa? Falta de profissionais? Estamos falando de um programa cômico cujas piadas perdem a graça - de maneira geral, em muitos desses programas, há diálogos que acabam não fazendo sentido algum. Fica claro para nós, espectadores, que a maioria dos casos não é culpa das idiossincrasias das línguas. São problemas de péssima tradução mesmo! Afinal, "Wendall, the social worker" não quer dizer "Wendall, a trabalhadora social". Qualquer vestibulando sabe que o termo certo seria "assistente social". E a programação sofre mais um pouco...

Relembrando: não é sobre a qualidade das séries que o canal traz. Sobre elas, falamos aqui por vezes sem preocupar muito com o canal nacional. Desses, talvez até a Warner tenha a melhor leva, atualmente. Só que a programação é toda de fora, e a Warner daqui cuidaria apenas de gerenciá-la. Infelizmente, parece que não estão interessados o suficiente em agradar o público brasileiro. Acaba acontecendo esse desleixo pelo tratamento da coisa como um todo, passando pela péssima direção da TV, pela linguagem dos "programetes" ou "inserções", como preferirem (há jornalistas ali?), pelo gerenciamento dos elementos em conjunto.

Essas esquisitices não vêm de hoje. Basta comparar os diversos problemas atuais com os de antes: o narrador que tinha um sotaque maluco "franco-paraguaio", a constante ausência de legendas (era muito pior e continua acontecendo), a newsletter que trazia os nomes das séries escritos errados (verdade! Só não sei se continua...) e tudo o que fez a nossa "alegria" em anos anteriores. Alguns erros resolvidos, dezenas de erros novos, um punhado de insistentes, o mesmo descaso em anos de programação. Seguem os warnerismos...

This picture is hosted by ImageShackAliás, temos duas novidades nessa área. A primeira é a "split screen" durante a exibição da série, prática já execrada por espectadores no mundo todo (duvida? Veja exemplos aqui e aqui, entre milhares de outros no Google). É aquele negócio de dividir a tela em duas colunas (na verdade, espremendo duas telas cheias em uma) e encobrir o final do programa com uma chamada para a série seguinte, comprometendo conteúdo ou créditos do episódio em nome de... bem, absolutamente nada! Parece que é mesmo impossível esperar o episódio acabar e então enfiar os malditos dez segundos numa chamada depois dela. Precisa tanto assim mutilar parte do programa pra isso? Não, não precisa. Deixem isso pras porcarias da RedeTV. Em séries e coisas que ainda têm conteúdo pra ser mostrado (incluindo créditos que trazem participações especiais, etc), isso pode ser considerado um belo warnerismo também.

A segunda e mais recente está pra entrar em operação. Um histórico: o canal Sony cometeu o sério deslize de embaralhar os episódios de Desperate Housewives na primeira temporada, deixando a história quase incompreensível. Recebeu tantas reclamações que preferiu reconhecer o erro, explicou suas razões, praticamente pediu desculpas com uma nova campanha e nova estratégia e decidiu estrear a nova temporada só em fevereiro pra que isso não se repetisse. A Warner não aprendeu com esse erro. O pessoal que acompanha Reunion, ER ou The OC pode ver no ar as chamadas para reprises aleatórias já na semana que vem, sendo que bem poucos inéditos foram exibidos até agora. Não é aquela coisa de "acabou a temporada, vamos repetir". Vai começar a bagunça...

Acreditem, não são necessariamente críticas destrutivas, principalmente quando admitimos claramente que somos fãs da programação. Um amigo meu tem essa teoria de que só verdadeiros amigos chamam a atenção quando seu cabelo está muito ruim ou sua namorada atual é uma vadia. O resto das pessoas "aceita" qualquer negócio... Pois fica parecendo que a Warner nacional não tem "amigos" ou alguém que cuide dela em seus estúdios, porque ninguém é capaz de corrigir a quantidade absurda de erros que acontecem ali e que continuam aparecendo todo ano, em cada campanha de estréias, em cada "Behind Bobagem", em cada locução e vinheta.

Pois então "De nada, canal Warner". Somos seus amigos e queremos te ver bem melhor do que está hoje. This picture is hosted by ImageShack

13 dezembro 2005

Quantas temporadas até a invasão?

(publicado originalmente em 13 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 26 de setembro de 2006)


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Alous.

Faz um bom tempo que eu não apareço - pouco mais de um ano, pra ser mais exato. Alguém se lembra que eu um dia escrevi notícias sobre séries aqui no site? Pois agora a gente ataca com uma coluna sobre séries, já que a lida diária (essa "vagabundagem" pop...) não nos permite mais traduzir, elaborar e escrever diariamente. Vou me contentar com uma ou duas "pílulas" por semana. Combinado?

This picture is hosted by ImageShackComecemos justamente pelo duvidoso: Invasion. Invasões de alienígenas escravizantes e destruidores são um tema, em essência, interessante, mas cheio de péssimos exemplos na cultura pop. Rendem assunto há décadas nos quadrinhos; alguém é velho como eu e se lembra da fraquinha minissérie Invasão, da DC? E do interminável perrengue Galactus-Quarteto-Skrulls-alguém-mais, um ponto alto da Marvel? Adaptado pelo cinema, entretanto, o tema muitas vezes abandonou a sutileza da prosa de um H.G. Wells, as alegorias e as reações tipicamente humanas e, claro, patinou. Em nome do entretenimento "mais óbvio" e "menos cerebral" (Hollywood tem esse dom maravilhoso...), os aliens deixaram de ser metafóricos, ficaram bem mais literais e acabaram combatidos por humanos "heróis" - caso típico de Independence Day e ainda do recente Guerra dos Mundos, entre muitas outras besteiras. Vez ou outra, a coisa acaba ficando meio que num zero-a-zero legal, como em Sinais, V (a série de TV) ou nos simpáticos "lampadinhas" de Cocoon.

É nessa última categoria que entra Invasion, atualmente em cartaz nos domingos à noite no canal Warner (sem direito a reprises, creio eu). É legal? É legal, sim, porque os personagens estão se desenvolvendo, buscando uma certa tridimensionalidade e tal, mas... alguém é capaz de me dizer sobre o quê é essa série??

Invasion tem sido uma variação dramática de Seinfeld: uma série sobre nada. Obviamente, não estou comparando as duas, é só uma brincadeira. Não há comparação. Mas é fato que, até agora, com seis ou sete capítulos já exibidos, Invasion é um drama cheio de climas, de tensão, com uma atmosfera de promessa de coisa ruim, detalhes nada sutis e um subtexto misterioso... sobre praticamente coisa nenhuma.

A premissa batida era, como eu disse antes, interessante. Mas será que teremos de esperar uma terceira ou quarta temporada até que, de fato, aconteça alguma coisa? O público americano não costuma ser tão paciente... Seria bom uma espécie de resolução (um "wrap up") o quanto antes, para que a história possa evoluir um pouco (o "move on" deles) e, quem sabe, decolar ("become a hit"). Ou, melhor ainda, se ela tivesse nascido já com um contexto cabeçudo qualquer, uma metáfora legal ou uma bela trama paralela que justificassem e segurassem tanto embaço. Mais uma vez, o sacrifício da sutileza, mas agora não foi em nome da ação. Em nome de quê, então?

This picture is hosted by ImageShackThis picture is hosted by ImageShackOs elementos vão sendo apresentados aos poucos. Logo no começo, as aulas de "Literatura para Vestibular" da Tia Agnes Delores apitaram. O mocinho Russ Varon (Eddie Cibrian) é "o varão herói macho paca homem até o talo" e o misterioso Tom Underlay (William Fichtner) é "aquilo que está adormecido por baixo da aparência". O terceiro sobrenome relevante é o dos irmãos Groves. A palavra "grove" designa um pequeno bosque com árvores retas e só, sem vegetação rasteira. Seriam "aqueles que buscam a luz", uma vez que a repórter e o barbudinho são quem mais investiga as estranhezas pós-furacão? Seriam aqueles que ajudam o herói ("Varon") a sair do chão ("Underlay")? Seriam meros peões, estacas plantadas na trama? Ou quem sabe sejam a ligação da Terra com o céu e... Cartas para a redação.

This picture is hosted by ImageShackDois mil e um detalhes-meio-grandes-demais depois, temos um monte de braços e pernas e órgãos, mas nada de corpo. Ainda assim, surpreende que o desenvolvimento esteja interessante e fazendo certo sentido, porque são histórias (quase) humanas sendo contadas. É a espera que está enchendo um pouco a paciência e, de certa forma, ofendendo levemente a inteligência do espectador. Afinal, se nem mesmo há ação ou trama intrincada para segurar essa longa introdução, pra que tantas semi-explicações, tantos indícios, tanta fumaça pra nada de fogo? Uma invasão que domina primeiro as instituições (polícia, igreja e mais meia-dúzia de músicas dos falecidos Titãs), é acobertada pelo exército e na qual só quem acredita é o "desfavorecido" da história deve ser, na verdade, uma invasão de clichês do gênero, não de extraterrestres. Chamem o Homem-Chavão para cuidar do caso. Vamos esperar que a menininha não salve a pátria em um pod voador, dizendo "iupiii!" quando até o pai dela estiver falando klingon...

This picture is hosted by ImageShackThis picture is hosted by ImageShackDe qualquer modo, mesmo que a história não ande ou o capítulo da semana não seja dos melhores, sempre temos uma boa chance de ver Alexis Dziena (a Kira) e Lisa Sheridan (a Larkin), aquelas duas maravilhas enfiadas nos Everglades.

Pra fechar, perguntas (im)pertinentes de espectador: estamos no México? A série é argentina? Como é o nome daquela vinhetinha que separa os blocos? Não sei se existe um nome, chamemos de "vinheta para entrada de comerciais chatos e institucionais". Pergunto isso porque, em Invasion, temos mais uma das famosas "confusões" de vinhetas da Warner. Só que ali havia um caso especial de estupidez. Nos plim-plins de Invasion, o locutor dizia claramente "Estamos de volta com..." (e não "Ya volvemos con...", em espanhol), e então tascava sem dó: "Invasión"! No último domingo, a Warner (parece) finalmente tirou do ar o portunhol safado. Só mais uma amostra dos velhos "warnerismos" a que, infelizmente, já nos acostumamos. Mas isso é assunto pra daqui a pouco. This picture is hosted by ImageShack