Serial Frila: Warnerismos

16 dezembro 2005

Warnerismos

(publicado originalmente em 16 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 26 de setembro de 2006)


This picture is hosted by ImageShackUm "warnerismo", em definição por nossa conta, seria o ato de cometer uma quantidade incrível de pequenas besteiras durante a programação segundo o modelo já ditado e constantemente reafirmado pelo canal Warner. O objetivo disso, diríamos, é deixar transparente que o canal está se lixando para a própria programação e para os espectadores constantemente desrespeitados.

O conceito não envolve mera estupidez. Se fôssemos falar disso, acho que nenhum canal a cabo chegaria aos pés dos canais abertos, cheios de telebarracos e "galera maneiríssima aprontando todas". Estamos falando de desleixo, descuido, "não estamos nem aí pro que vai ao ar" mesmo. São as pequenas cagadas profissionais durante a programação, algo como o policial atirar no pneu da viatura, o médico prescrever a receita em inglês ou um jornalista noticiar filme da Família Monstro e, na resenha, descrever a Família Addams (o que acontece com mais freqüência do que gostaríamos...).

This picture is hosted by ImageShackUm exemplo claro de warnerismo, já que estamos em "modo dicionário": num episódio não muito distante de ER, ocorre um diálogo entre os médicos Carter e Ray (foto ao lado).

(Carter chega):
"Hey, what are you doing?"
(Ray, brincando com a guitarra):
"Just chillin'..."

Tradução real da coisa:
"Oi, o que você está fazendo?"
"Dando uma relaxada..."

Tradução da Warner:
"O que você está fazendo?"
"TOCANDO O CHILI" (!!!)

Precisa dizer mais? Precisa. Um erro jamais justifica outros não-relacionados. Todos nós, humanos, os cometemos eventualmente, e a maioria acaba aprendendo algo. Mas não a Warner.

Naquela mesma série, warnerismos recentes nos apresentaram o ator John "Leguizano" como novidade do elenco, assim como um personagem chamado "Doutor Kovaque". Aquela bobagem velha de "estamos no Brasil" nunca valeu, claro... Ninguém razoável diz "Giselle Búndichen" ou "Jorge Clônei", e isso é ainda muito mais importante em um canal de TV cuja programação é 100% importada. Tudo bem, ainda assim, reconheço que isso é pouca coisa. Vamos aos pesos-pesados.

Que tal a célebre chamada de Cold Case? Enquanto o áudio dizia "Este é o detetive Scotty Valens. Ele faz isso e aquilo, ele é assim e assado...", o vídeo mostrava exclusivamente cenas da personagem principal, Lilly Rush, em ação. Agora, imagina: "Fausto Silva não dá moleza e agita todas nooo... Sabadão Babacão!". Enquanto isso, o vídeo mostra uma montagem com cenas de Minority Report, que vai ao ar dali a duas semanas num Supercine qualquer. Vovô e Vovó se entreolham horrorizados e se perguntam o que está acontecendo com a TV, enquanto alguém lá no Rio vai pra rua por permitir esse "pequeno engano" no ar durante um mês.

This picture is hosted by ImageShackMais? Todas as séries novas da Warner "estréiam hoje", segundo suas chamadas, independente do dia em que elas sejam transmitidas; na última coluna, falamos da série "colombiana" "Invasión"; na primeira temporada de Joey, nosso amigo narrador deu ao personagem o sobrenome "Tribbaini", sendo que esse mesmo sobrenome foi usado no primeiro episódio da série propositadamente como algo errado, e o personagem ainda reclamava algo como "Custava dizer certo o meu nome? É Tribbiani! Tribbiani!". Bom, o mesmo narrador costumava chamar um outro programa do canal de "Bacherolette"... No fim, a culpa nem é dele, mas de algum eventual diretor de TV (existe algum na Warner?), que deixa passar essas coisas no texto e depois na locução.

As propagandas em portunhol já são coisa comum, mas nem por isso deixam de ser um desrespeito ao espectador. Você imagina a Globo ou o SBT veiculando erros grosseiros como aquelas misturas incompreensíveis "nem lá nem cá"? Óbvio que errar faz parte da condição humana. Eu mesmo, o colunista aqui, tenho a obrigação de revisar este texto quando o termino e assim garantir que ele saia com um mínimo de erros, que efetivamente ocorrem aos montes enquanto escrevo. Mas um canal de TV (cheio de gente) não conseguir cuidar da sua própria programação dada de bandeja quando essa é a única tarefa que lhe cabe, aí é outra história.

Não importa aqui a questão da qualidade, do conteúdo, não é disso que estamos falando. Os problemas são de formato, de arestas, de pequenas coisas importantes que contribuem para a respeitabilidade (ou não) do canal. Meu Deus, o que dizer da vinheta sonora que encobre diálogos das séries a cada retorno dos comerciais? A mesma "musiquinha" era usada antes, na entrada e na saída dos comerciais (aquelas da última coluna, lembra?), de forma muito mais inteligente, exatamente como o "plim-plim" da Globo ou vinhetinhas de "Estamos de volta com o filme X", de um SBT.

As legendas costumam pecar miseravelmente, e qualquer um que acompanhe séries e saiba bem inglês percebe isso. Nos comerciais, então, chegam a ser risíveis. O exemplo lá em cima é só isso, mero exemplo num universo de outros. O que se passa? Falta de profissionais? Estamos falando de um programa cômico cujas piadas perdem a graça - de maneira geral, em muitos desses programas, há diálogos que acabam não fazendo sentido algum. Fica claro para nós, espectadores, que a maioria dos casos não é culpa das idiossincrasias das línguas. São problemas de péssima tradução mesmo! Afinal, "Wendall, the social worker" não quer dizer "Wendall, a trabalhadora social". Qualquer vestibulando sabe que o termo certo seria "assistente social". E a programação sofre mais um pouco...

Relembrando: não é sobre a qualidade das séries que o canal traz. Sobre elas, falamos aqui por vezes sem preocupar muito com o canal nacional. Desses, talvez até a Warner tenha a melhor leva, atualmente. Só que a programação é toda de fora, e a Warner daqui cuidaria apenas de gerenciá-la. Infelizmente, parece que não estão interessados o suficiente em agradar o público brasileiro. Acaba acontecendo esse desleixo pelo tratamento da coisa como um todo, passando pela péssima direção da TV, pela linguagem dos "programetes" ou "inserções", como preferirem (há jornalistas ali?), pelo gerenciamento dos elementos em conjunto.

Essas esquisitices não vêm de hoje. Basta comparar os diversos problemas atuais com os de antes: o narrador que tinha um sotaque maluco "franco-paraguaio", a constante ausência de legendas (era muito pior e continua acontecendo), a newsletter que trazia os nomes das séries escritos errados (verdade! Só não sei se continua...) e tudo o que fez a nossa "alegria" em anos anteriores. Alguns erros resolvidos, dezenas de erros novos, um punhado de insistentes, o mesmo descaso em anos de programação. Seguem os warnerismos...

This picture is hosted by ImageShackAliás, temos duas novidades nessa área. A primeira é a "split screen" durante a exibição da série, prática já execrada por espectadores no mundo todo (duvida? Veja exemplos aqui e aqui, entre milhares de outros no Google). É aquele negócio de dividir a tela em duas colunas (na verdade, espremendo duas telas cheias em uma) e encobrir o final do programa com uma chamada para a série seguinte, comprometendo conteúdo ou créditos do episódio em nome de... bem, absolutamente nada! Parece que é mesmo impossível esperar o episódio acabar e então enfiar os malditos dez segundos numa chamada depois dela. Precisa tanto assim mutilar parte do programa pra isso? Não, não precisa. Deixem isso pras porcarias da RedeTV. Em séries e coisas que ainda têm conteúdo pra ser mostrado (incluindo créditos que trazem participações especiais, etc), isso pode ser considerado um belo warnerismo também.

A segunda e mais recente está pra entrar em operação. Um histórico: o canal Sony cometeu o sério deslize de embaralhar os episódios de Desperate Housewives na primeira temporada, deixando a história quase incompreensível. Recebeu tantas reclamações que preferiu reconhecer o erro, explicou suas razões, praticamente pediu desculpas com uma nova campanha e nova estratégia e decidiu estrear a nova temporada só em fevereiro pra que isso não se repetisse. A Warner não aprendeu com esse erro. O pessoal que acompanha Reunion, ER ou The OC pode ver no ar as chamadas para reprises aleatórias já na semana que vem, sendo que bem poucos inéditos foram exibidos até agora. Não é aquela coisa de "acabou a temporada, vamos repetir". Vai começar a bagunça...

Acreditem, não são necessariamente críticas destrutivas, principalmente quando admitimos claramente que somos fãs da programação. Um amigo meu tem essa teoria de que só verdadeiros amigos chamam a atenção quando seu cabelo está muito ruim ou sua namorada atual é uma vadia. O resto das pessoas "aceita" qualquer negócio... Pois fica parecendo que a Warner nacional não tem "amigos" ou alguém que cuide dela em seus estúdios, porque ninguém é capaz de corrigir a quantidade absurda de erros que acontecem ali e que continuam aparecendo todo ano, em cada campanha de estréias, em cada "Behind Bobagem", em cada locução e vinheta.

Pois então "De nada, canal Warner". Somos seus amigos e queremos te ver bem melhor do que está hoje. This picture is hosted by ImageShack