Serial Frila: Breve manual de insanidade ianque, v. 2

05 agosto 2006

Breve manual de insanidade ianque, v. 2

A ridiculous Britney Spears picture, which is redundant, is hosted by ImageShackLembra do primeiro "Breve manual"? Tanta gente gostou e contribuiu com outras estranhezas americanas que pudemos elaborar mais este apanhado. Continuamos tentando ajudar você, caro leitor-espectador, a compreender melhor a insanidade ianque que você vê, ouve e lê em séries de TV, filmes e quadrinhos.

Não precisa encarar essas bizarrices como sendo necessariamente o cotidiano do povo de lá, mas... elas têm de vir de algum lugar pra serem vistas em tudo que é canto exatamente do mesmo jeito, né não?

- Americanos têm uma fixação muito esquisita por calças. Tudo deles, em algum momento, tem piada envolvendo "pants" ou "trousers". A maioria não tem graça alguma, mas eles morrem de rir assim mesmo, já que parece que o próprio conceito de dois tubos para enfiar as pernas com uma área comum para a cintura tem algo intrinsecamente hilário que só o povo de lá consegue enxergar. Colocar as calças na cabeça, então, é perigo de infarto. Quando o assunto não for risada, dão jeito de encaixar de outro jeito. A expressão "rolar de rir", inclusive, pode ser traduzida como "laugh your pants off". Sim, "rir suas calças pra fora". Ir pra cama com alguém, por exemplo, é metaforicamente "to get into someone's pants". Se alguém mentir, vão cantar para o liar que suas pants are on fire. Faz todo o sentido do mundo: se você é mentiroso, suas calças tão pegando fogo. Claro, como não!?

An American creature is hosted by ImageShack- Os garotos americanos são, normalmente, humanos pouco brilhantes. Como os daqui, então você os compreende. Mas as adolescentes americanas não têm classificação de Lineu. Na verdade, ainda não se descobriu se seriam sequer humanas, ou mesmo terrestres. A forma de falar ("she's sooo, like, totally a bitch, you know? Like, what-EVER...") situa-se totalmente abaixo de qualquer forma de comunicação humana conhecida. Há rudimentos longínquos de raciocínio, mas com clara inspiração alienígena. A forma de vestir costuma ser tão absurda que nenhuma cultura humana a abraçaria. A antropologia já concluiu que os programões dessas criaturas seriam classificados como "de índio"... se elas entendessem o que é um índio, em qualquer variação da palavra.

Marshmallow is hosted by ImageShack- Ah, as maravilhas culinárias... O pessoal gosta de fazer graça dizendo que comida típica de americano é o "paupérrimo" hambúrguer. Mas o mundo todo come hambúrguer e adora, certo? O esquisito mesmo é sentar em volta de uma fogueira com um tal de marshmallow (na verdade, uma rolha disfarçada de pedaço de isopor) num galho e deixá-lo tostando. Comer aquela iguaria com gosto de plástico queimado é o ponto alto de uma noite "em contato com a natureza". E quanto à tal de manteiga de amendoim? Na única vez em que eu comi essa desgraça, parecia margarina pura na colher. Você pode imaginar como é totoso. Dizem que a famigerada root beer (uma "refricerveja" sem álcool, preta, doce pra diabo e, dizem, com gosto de remédio) vai pelo mesmo caminho. "Torta de ruibarbo" soa legal pra você? Tudo coisa cotidiana por lá...

Demonstration of the Heimlich maneuver is hosted by ImageShack- Por falar em rango, a prática do bom engasgo deve ser ensinada nas escolas por lá. Nunca se viu um povo com tanta habilidade para engasgar em lugares públicos, a ponto de esse item conseguir vaga na porcentagem anual de mortes. Numa boa, quantas vezes você já viu alguém engasgar muito feio num restaurante brasileiro? Será porque mamãe e papai daqui ensinaram que a gente deve mastigar antes de engolir? Não é à tôa que a manobra de Heimlich (Heimlich maneuver) é tão popular nos EUA e há cartazes sobre ela até nas barraquinhas de cachorro-quente.

- Ah, as portas... Não espere encontrar, numa série ou num filme, uma porta de casa como as nossas aqui. Esse esquema furado de fechar na maçaneta e trancar com chave é coisa de gente atrasada... Lá, naquele lugar tão desenvolvido, só existem dois modos: ou a porta tranca sozinha, e é a coisa mais normal ficar trancado pra fora simplesmente porque ela bateu (só abre por dentro e você está sem a chave), ou então eles deixam aberta mesmo, porque lá não tem ladrão. Riiiight! Nos subúrbios e no interiorzão, ainda tem aquele lance - tão inexplicável quanto o resto - de as casas terem um "protetor de porta", uma espécie de tela que serve como segunda porta e abre pra fora. Nem vou procurar nome certo ou explicação para aquilo...

Alphabet soup is hosted by ImageShack- Existe uma mania de acrônimos que, aparentemente, todo mundo conhece. A gente aqui, tantas vezes, nem imagina como isso acontece ou o que eles signifiquem. Seja linguagem cotidiana (BS, ASAP, BF, FYI), jargão médico ou policial que, teoricamente, ninguém mais poderia entender (DOA, LP, GSW, DUI), jargão militar que virou popular (MIA, SNAFU) ou acrônimos de internet (IMHO, ROFL, RTFM), o pessoal de outros países fica perdido quando quer acompanhar essa insanidade em inglês. De repente, alguém solta um VZWJ numa série de televisão e, automaticamente, todo mundo em volta sabe o que significa. Menos quem assiste. Pra completar a lei do menor esforço, é corrente abreviar nomes com a primeira letra, mesmo que não seja apelido (como chamar o Jerry Seinfeld de "Mr. S").

Ana Hickman is hosted by ImageShack- Se você é loura, alta e tem olhos azuis, nunca diga aos americanos em volta que você é brasileira (mas por favor envie um email à coluna assim que possível). Por algum motivo imponderável, o seu sobrenome e o lugar de onde você vem são ainda mais importantes que a sua aparência - que, na teoria, nem deveria importar tanto assim. Julga-se o livro antes mesmo de se olhar a capa! Ainda que um americano nativo tenha a aparência óbvia de um latino, como o "típico" californiano Benjamin Bratt, essa pessoa vai ser mais bem tratada por lá do que você, se você se revelar não-americano. Por outro lado, não se engane: mesmo que você não admita ou não tenha sotaque aparente, o povo de lá, segundo consta da TV e dos filmes, tem um sexto sentido para detectar ascendências. Olham para a linha do cabelo e uma dobrinha no pescoço e soltam "você parece ter descendência visigoda com alguns traços bantus e 1/16 algonquino. Tem parentes no Brunei?".

Spiky Joey Tribbiani is hosted by ImageShack- O Roberto Figueiredo, do SoBReCarGa, me passou algumas observações muito boas quando da publicação da primeira coluna. Por exemplo, qual é dos penteados masculinos? Parece que os caras enfiam a cabeça num balde de gel e depois tomam uma surra de toalha molhada pra coisa ficar tão desorganizadamente arrumada daquele jeito. Será que, em dia e horário de gente normal, dá mesmo para encontrar alguém na rua com esses cabelos tsunâmicos? Os malditos reality shows, por menos realidade que tenham, mostram céu aberto pra isso... Até militares e agentes do FBI adotam essa beleza - veja Bones, Numbers ou Stargate: Atlantis. Exemplos nas demais séries, em especial as cômicas, não faltam: Scrubs, Friends, Life on a Stick, Joey, Freddie e quaisquer outras que tenham personagens jovens, urbanos e, em especial, solteiros.

This typical teenager is hosted by ImageShack- Outra do Roberto: a adolescência americana, muitas vezes, pode ser bem incompreensível para um brasileiro. Qualquer aborrecente estúpido de 16 anos tem carteira de motorista definitiva. Com carros e independência pra todos, acho que não precisa detalhar muito o quadro final. Além disso, tudo quanto é estudante, independente de nível sócio-econômico, tem de passar pela (falsa) "prova de caráter" que é trabalhar em alguma lanchonete gordurosa (ou como baby-sitter) durante as férias para conseguir alguns trocados. Assim, ele pode gastar tudo numa outra lanchonete gordurosa com os amigos ou num presente impensado pra uma vagabinha qualquer. Então, ele sai do colégio com um "prom ball", o famoso baile de formatura. Trata-se da festinha da hipocrisia: são coroados o mané e a manoa que vão se dar bem a vida inteira; todas as garotas vão perder a virgindade (os pais fingem que não sabem e dão conselhos e tal); os nerds terão uma humilhação final ou sua vingança máxima contra os bullies (os valentões da escola); alguém vai incrementar o ponche "virgem" com alguns litros de bebida ilegal (que qualquer um compra quando quer).

Beer tunnel is hosted by ImageShack- Adolescência, parte II: saindo da escola, o jumento proverbial ganha automaticamente uma bolsa de estudos numa universidade. Não foi por mérito acadêmico ou por inteligência: o boçal em questão se destacou em futebol americano! Indo morar na universidade, o sujeito, que não entende nada de coisa nenhuma, só encontra dormitórios e fraternidades repletos de sacanagem e cervejada do começo ao fim. Bem vindo a uma cidade de adolescentes, dos ingênuos recém-chegados (freshman year) aos que já se acostumaram e querem vingança pelo ano anterior (sophomore year), chegando aos pós-adolescentes já experientes, cheios de técnicas avançadas de babaquice (junior year e seguintes). É, a vida acadêmica por lá também é bem diferente... E nem pense em voltar pra casa depois! Conforme dito em verbete do manual anterior, morar na casa dos pais depois dos 20 é sinal de fracasso irrevogável pra todo o sempre.

Brasileiros nunca vão entender mesmo é aquele papo do "kiss my ass". Se a Jennifer Connelly emputece comigo por alguma razão e me manda "kiss her ass", eu não vou ter alternativa. "Yes, please, ma'am! Neste minuto e aqui na rua mesmo tá ótimo." This picture is hosted by ImageShack