Serial Frila: "One for me..."

20 dezembro 2005

"One for me..."

(publicado originalmente em 20 de dezembro de 2005)
(revisado e republicado aqui em 7 de novembro de 2006)


"Música pop em séries de TV" é o típico assunto rico, constante e recorrente da cultura pop. Isso porque quantidades cavalares de séries vêm e vão a cada seis meses (capítulos idem), e a relação que elas têm com a música é a mesma que existe entre sua unha e o seu dedão. Inclusive nem pretendo me estender demais sobre esse assunto, porque não esgotaria o tema nem em 20 colunas. Além do mais, não assisto a tudo, e com certeza alguma coisa interessante vai ficar de fora. Mas vamos a algumas pinceladas.

This picture is hosted by ImageShack This picture is hosted by ImageShackAtualmente, a safra até não está das melhores, mas dá pra destacar algumas faixas e curiosidades. Antes de tudo, dois esclarecimentos: The OC traz, sim, bandas novas a rodo, mas não faz parte da minha grade; e, a essas alturas, todo mundo já sabe que o Who toca as músicas de abertura das três C.S.I.. Em tempo: não existe "o The Who" nem "o The Doors" ou "o The Cure", assim como não existem "os The Beatles" do Casseta & Planeta por motivos óbvios!

Ok, em frente.

This picture is hosted by ImageShack Mais uma coisa que já deve estar perto do óbvio é que Zach Braff, o JD de Scrubs, é um fã declarado do músico Colin Hay, ex-líder da banda australiana Men At Work. Digo isso porque o espectador mais assíduo da excelente telessérie vai se lembrar de um trovador que aparecia durante todo o episódio de abertura da segunda temporada ("My Overkill") e tinha seu violão destruído no fim. O homem era exatamente Colin Hay, e a música era Overkill, sucesso indiscutível nos anos 80 com o Men At Work. A trilha original de Scrubs traz mais material de Hay, conforme podemos ver aqui, assim como a trilha escolhida a dedo para o belo filme Garden State, escrito, dirigido e estrelado por Braff.

Enquanto estamos em Scrubs, é bom ressaltar que o tema de abertura dela existe como "música inteira". A letra casa bem com a série, sugerindo que médicos são humanos, falíveis e sensíveis, e não super-homens. O nome da faixa é exatamente Superman, tocada por Lazlo Bane. Parece nome de gente? Pois é uma banda que Braff já conhecia desde bem antes da estréia! A primeira temporada abria com um refrão da música, mas a segunda usava outro, mais arrastado. Só pra esclarecer...

Fechando o círculo, junte esse mesmo Lazlo Bane àquele mesmo Colin Hay e teremos uma ótima versão para a velha Overkill. A "nova" gravação (que é de 1997) unindo os intérpretes da música-tema de Scrubs e o trovador preferido do astro da série não foi feita especialmente para uma trilha sonora, mas bem que poderia ter sido. Legal essa coincidência, né?

This picture is hosted by ImageShack Falando em assiduidade e excelência, você que é fã de Two And a Half Men presenciou há pouco tempo uma das melhores tiradas da série até hoje - diabos, com certeza uma das melhores dos últimos tempos.

Charlie é o único homem numa festinha gótica só de mulheres ("bruxas", diriam elas). É dopado e carregado pelas mulheres para uma sala onde ele será ungido e, quase sem querer, fará parte de um ritual que, claro, inclui montes de safadeza. Enquanto o carregam, elas entoam em conjunto "Annoint him, annoint him, annoint him...", ou "untem-no", em português. Ele, trola cheia, começa a cantar algo por cima.

A música em questão é um hit dos anos 70 chamado Hooked on a Feeling, que uma porrada de gente já gravou, incluindo Vonda Shepard, a cantora de Ally McBeal. Procure a versão gravada pelo grupo sueco Blue Swede e veja por que eu quase tive um filho de tanto rir naquela hora.

Aliás, de quebra, você também vai se lembrar do fenômeno de internet "Dancing Baby", que rolou há uns anos e ficou famoso justamente pela mesma Ally McBeal. Ainda corre o risco de querer ver Cães de Aluguel de novo, o que nunca é demais. Pra completar, vai se lembrar da saudosa primeira temporada de That '70s Show, com uma vinheta em que os caras inalavam hélio e cantavam o refrão dessa música com voz de pato.

This picture is hosted by ImageShackA versão do Blue Swede já foi milhares de vezes atribuída à grande banda de hard rock setentista Grand Funk Railroad. Com certeza, não são eles. Mas como as séries legais também adoram (a boa) música velha e reconhecem seu valor atemporal, o GFR tem grandes chances de aparecer em outra ótima série, a nova Supernatural - se é que já não tocou.

A trilha sonora desse excelente seriado de terror é toda calcada em "mofo-metal" e rock pesado em geral, com ênfase nos clássicos, o que deve significar sucesso garantido aqui neste Brasil parado no tempo. No primeiro episódio, Dean Winchester explica a seu irmão mais novo, Sam, que no carro ele só tem fitas (nada de CDs) com aquele estilo de música e que é aquilo o que eles vão ouvir durante suas viagens. Isso serve como desculpa pra uma trilha sonora de qualidade que já nasce com o jogo ganho e, convenhamos, casa muito bem com a temática da série.

Nas palavras de Sam, indignado, "Black Sabbath? Motörhead? Metallica? It's the greatest hits of mullet rock!". Além desses luminares, já tocaram por lá AC/DC, Free e Iron Butterfly, entre outros.

This picture is hosted by ImageShackEntretanto, nem todo uso de música velha é bem-feito. A estreante Reunion era até boazinha, mas já foi cancelada sem qualquer consideração pelo pessoal do lado de cá. Tinha proposta e história interessantes, mas talvez tenha sido podada por apostar demais no formato do dramalhão cheio de clichês. Um deles era justamente a parte musical.

Os produtores e escritores tinham uma necessidade imperiosa de ilustrar cada ano da série com dois ou três hits absolutamente óbvios daquele ano. Sabe, aqueles mais conhecidos mesmo, que tocam nas rádios brasileiras como novidade até hoje.

Será que o zeitgeist é tão difícil de captar que eles tiveram de retratá-lo assim, sem criatividade, desse jeito fácil e ineficaz? As formas sutis de falar e de pensar, as roupas, os programas, as pequenas modas, as famílias, tudo isso com base em uma boa pesquisa e um reforço no roteiro renderia um background mais fiel, mais instigante. Quem sabe até poderia gerar ganchos bons, razões e desenrolares possíveis apenas pelas circunstâncias da época. Não, "põe aí um megahit de 1989 e, pronto, o espectador vai se sentir imediatamente levado àquele ano" - a prova maior da preguiça dos realizadores é que o uso de diversos outros clichês morreu depois de dois ou três episódios. Mantiveram só as músicas como um "certificado-pé-no-peito" de estarmos em determinado ano. Enquanto isso, o mesmo espectador sente sua inteligência levemente ofendida, e a série roda.

This picture is hosted by ImageShackVamos continuar nas estreantes e tocar na simpática Related. Opa, outra pedra no caminho... A produtora Marta Kauffman, que já tinha derrapado feio na escolha da péssima música de Joey, acabou elegendo para a abertura dessa nova série uma cópia descarada e enganada. Explicando: lembra da música que fecha o filme Mean Girls? Era um cover de Billy Idol (velharia de novo, pô?) tocado por uma competente banda de garotas chamada The Donnas (foto ao lado), uma versão bem legal, aliás.

As Donnas estão na estrada há algum tempo, já têm seus discos lançados, ganharam alguma notoriedade há poucos anos com uma grande cover do Kiss (entre muitas outras) e músicas próprias enérgicas, bem assertivas da postura autêntica da banda. E então nossa amiga produtora aparece com uma duplinha fabricada até o talo, chamada The Veronicas, chupinhando o estilo das moças em todos os aspectos, numa música encomendada e pré-formatada pra dar certo (como aconteceu em Friends com os Rembrandts).

Ok... "The Veronicas"?? Ouvi, achei fraquinha e notei a semelhança de pronto. Mas havia um ar de "comprei minha atitude babaca no shopping" à la Avril Lavigne que não condizia com o estilo das Donnas. Vim procurar. Eram outras garotas, cheias de pose de rebelde, criadas no Chambinho e dotadas da sorte mercadológica de serem gêmeas bonitinhas num mercado geralmente pouco preocupado com a música. Como atitude não se empresta, não se ensina e adquire-se com caráter e experiência, resolveram copiar... começando pelo nome! Espero sinceramente que role processo. Antes Kauffman tivesse ficado com as originais, que estão longe de ser o máximo da maravilha, mas ralaram pra construir uma banda verdadeira sem padrinhos escancarados - e em se tratando de qualidade, que é o que importa, estão léguas à frente.

This picture is hosted by ImageShackVamos terminar de maneira mais agradável e com outro acerto. A profundamente inqualificável série Nip/Tuck, além de ótima, tem um tema bastante interessante. Só não consegui descobrir até hoje quem é The Engine Room. Tem cara de coisa de DJs europeus. Aliás, a música-tema A Perfect Lie tem diferentes versões e parece que a "correta" seria justamente um remix estendido. Vai saber... Na prática, esse pessoal tem alguma ligação misteriosa com a banda Remy Zero (que toca o chatinho tema de Smallville, a música Save Me).

Sabe, o que eu queria mesmo eram as versões integrais, se é que existem, das músicas de "abertura" e de "portfolio" do bloco [adult swim], do Cartoon Network. A primeira é uma espécie de trance com um som de locomotiva misturado a uma gaita nervosa ou coisa assim. A segunda é um pop-rock com uma guitarra algo psicodélica. Deve ser tudo feito sob encomenda... Pena... This picture is hosted by ImageShack