Serial Frila: Aumentando a música

20 julho 2006

Aumentando a música

Bom, é como eu disse nas... sei lá quantas colunas anteriores: a relação entre séries de TV e música é muito extensa e não dá pra esgotar nem de longe. O lado bom é que nunca falta assunto e a gente pode insistir nele um montão de vezes - como se precisasse de mais assunto, com umas quatro colunas já engatilhadas por aqui.

Então, vamos pra mais coisa. Valem séries e, claro, propagandas também. Afinal, quem vê um engole o outro de tabela.

Earl, Joy and Darnell are hosted by ImageShackO pessoal de My Name is Earl quer mesmo que a gente relacione os personagens ao tipo de rock mais cruzão (atenção...) que eles ouviriam. Por conta talvez de simplicidade demais, rock cru tem cara de white trash. Se morassem mais no interior bravo mesmo, talvez fosse um country, mas jecas de subúrbio gostam mesmo é de rock tão simples quanto possível. Aquela velha coisa de extravasar a rebeldia sem muito esforço...

Cherry Pie is hosted by ImageShackEntre os muitos exemplos mais óbvios ou muitas vezes escondidos em fundo de cena, uma faixa farofona teve destaque recente. No episódio em que a Joy vai se casar com Darnell, Earl bagunça a maravilhosa "cerimônia" de sua ex-esposa, tenta se redimir e acaba na cama com a noiva, ao som da música favorita dela: Cherry Pie, do Warrant. Essa desgraça é uma legítima representante do "hair metal" (rock farofa ou glam oitentista, como preferir), aquela coisa tão boa que nos legou Poison, Europe, Mötley Crüe e tanta gente de ótimo nível, letras profundas e grande competência técnica - em maquiagem e laquê, talvez...

Falando em bombas, aposto que todo mundo se lembra daquela história da explosão do bloco cirúrgico de Grey's Anatomy, que rendeu os melhores capítulos da série até hoje. Ela foi contada em dois episódios. No primeiro deles, quando a paramédica interpretada pela Christina Ricci entra em pânico, resolve ligar o foda-se e larga tudo pra explodir, você ouviu uma música do Coldplay que não conhecia, nunca havia visto num CD da banda e que, no fim das contas... não é do Coldplay.

In The Sun is hosted by ImageShackA banda só gravou In The Sun, de Joseph Arthur, para um projeto especial do vocalista do REM, Michael Stipe - que também pôde ser ouvido na faixa, mas sob os diálogos. Stipe lançou um CD beneficente para as vítimas do Katrina em Nova Orleans, depois que conseguiu reunir o próprio compositor Arthur, os amigos do Coldplay e mais James Iha (ex-Smashing Pumpkins), Justin Timberlake e bons músicos de estúdio. No disco há seis versões dessa mesma música; Stipe canta em todas, Chris Martin aparece em duas e o Coldplay completo toca só numa versão ao vivo, gravada no programa Austin City Limits. Aliás, a versão que a gente ouviu em Grey's Anatomy pode ser qualquer uma das duas em que Martin participa, não deu pra identificar. O CD não foi lançado no Brasil (e nem será) e você só encontra como download pago no serviço iTunes (também indisponível por aqui). Vale a pena, bela música.

A relação de Grey's Anatomy com o REM não é por acaso. É bem provável que a produtora da série, Shonda Rhimes, seja uma grande fã da banda, como eu. Afinal, esse mesmo episódio tem o nome de "It's The End Of The World", e a segunda parte se chama "(As We Know It)". O título completo é o mesmo de uma das músicas mais populares do REM, talvez você conheça. E, além desses dois, ainda tivemos um episódio chamado "Begin The Begin" (uma faixa menos famosa, mas igualmente excelente), e o capítulo final da segunda temporada, ainda não visto por aqui, que ganhou o nome de "Losing My Religion", um título que dispensa apresentações.

Outra referência a In The Sun é ainda mais clara. Na atual temporada de Scrubs, em episódio reprisado recentemente, o filho do Dr. Cox está pra ser batizado sem a presença do pai, que não concorda com a idéia de ir à igreja e cumprir todo aquele ritual. Quando ele muda de idéia e resolve aparecer, adivinha qual música toca quase inteira para amarrar a ação... E essa é a versão original de Joseph Arthur, tão bacana quanto as gravadas por Stipe.


Kansas is hosted by ImageShack

Outra série que é fã de rock, como eu já disse tantas vezes nessas colunas, é Supernatural. A trilha não costuma apelar pras farofas de cabelo e vai direto aos anos 1970 buscar os originais, conforme prometido no começo da série. Por exemplo, abrindo o penúltimo episódio da temporada que acabou agora, tivemos Carry On, Wayward Son, do Kansas. O episódio trata dos garotos Winchester superando diferenças com seu pai para ajudá-lo a finalmente localizar e matar o demônio que vêm perseguindo há anos. Nada mais apropriado que abrir com um "vai fundo, filho rebelde, estarei aqui quando você parar com isso".

Meg is hosted by ImageShackSe o uso criativo da música não for suficiente, note que a demoníaca Meg combina a entrega do Colt especial num certo cruzamento entre (as ruas ou avenidas, sei lá) Wabash e Lake, originalmente em Chicago. Esse endereço é uma alusão direta ao local em que Neo conseguirá sua fuga dos agentes no primeiro Matrix. E se a música anterior não convenceu como deveria, note que a segunda parte dessa história (o capítulo final da temporada)Both Wabash and Lake are hosted by ImageShack fecha com Bad Moon Rising, de uma banda que já cansou há muito tempo, o Creedence Clearwater Revival. É o sinal de dias ruins pela frente (ou "estamos entrando numa lua desfavorável").

Por falar em fim de temporada, escolhi assistir à insuportável The OC pela primeira vez na vida pra ver a cena em que Marissa Cooper morre. Eu queria ter certeza de que era verdade. A música que embalou aquele momento maravilhoso foi Hallelujah, numa interpretação emocionada da cantora e pianista Imogen Heap. Hallelujah é uma música do grande Leonard Cohen que foi eternizada por Jeff Buckley - a versão desse guitarrista é literalmente de chorar de bonita. Valeu o momento!

Ainda nos quesitos "chatura" e "choradeira de último capítulo", é fácil lembrar de Related, uma série que acabou de vez antes que conseguisse piorar mais. Vamos tirar algo de proveitoso do episódio final, no qual mais uma vez as quatro meninas lembraram da mãe e se mataram de chorar, como em todos os anteriores. Em determinado trecho, o professor de piano apaixonado pela matriarca Sorelli tenta impressioná-la com uma música difícil e bastante dramática durante um intervalo da aula. A mesma música é usada mais tarde, no fim do episódio, numa versão lenta e orquestrada, pra dar aquele efeito mais envolvente que a cena pedia. A peça que ele toca é do bom e velho compositor polonês Frédéric Chopin, e se chama Estudo Revolucionário, na tradução para o português.

Chopin is hosted by ImageShackChopin escreveu 24 estudos para piano e alguns deles têm esses "nomes próprios", além das designações típicas desse tipo de música. O difícil estudo (ou étude) em questão tem como nomenclatura original Opus 10, n. 12. A grande tensão dessa música é causada pelo contraste entre a mão esquerda do pianista, que o tempo todo sobe e desce em arpejos frenéticos, e a direita que cria fortes acentos dramáticos. Isso reflete o estado de espírito do tal professor de piano, apaixonado por uma mulher casada que também tem uma queda por ele, mas não vai dar as costas à família e consumar o caso.

Não tenho certeza, mas acho que Everwood, outra que acabou, usava essa mesma música numa propaganda. Parece que era uma série bem assistível, mas a gente tem de escolher as batalhas, né? Não dá pra ver tudo... Como eu disse, não tenho certeza, mas estou certo de que usavam a Marcha Turca de Mozart em outro comercial da mesma série.

Se agora descambamos pras propagandas, vamos a três delas que merecem destaque. Nunca podem faltar...

Andy Williams is hosted by ImageShackJá viu o comercial de um celular da Samsung, em que uma modelo-garçonete fica passando pelas mesas dos caras, embasbacados com ela? Aquela musiquinha muito legal, com ar retrô, é realmente das antigas: Music To Watch Girls By, de Andy Williams, na versão original de 1967. Há outras gravações dessa música, mas são instrumentais pelas orquestras de Billy May e Herb Alpert (um nome difícil de falar). Fique com a original e seu charme insubstituível, apesar da competência de Billy May.

Tem um camarada do qual eu não costumo ser muito fã, por conta do excesso de sacarose em suas composições. Mesmo assim, não há como negar que o maestro Burt Bacharach seja um gênio dos maiores. É dele a faixa que enfeita a propaganda do perfume Polo Black. Anyone Who Had A Heart teve sua interpretação definitiva na voz da grande Dionne Warwick, mas a versão em questão ficou a cargo de uma certa Cilla Black, que eu não conhecia até o momento. Inclusive, não tenho muita certeza, mas parece ser essa mesma.

Even Hugo Energise is hosted by ImageShack...Para um perfume rival, o Hugo Energise, fizeram uma propaganda em que um sujeito sai fazendo parkour numa cidade, enquanto toca uma música bem bacana que, infelizmente, foi composta só para o comercial. O autor é Thierry Loshouarn, quem canta é Andrew Wales e o nome da musiquinha é Movin' On (e continua com "nothing's ever gonna stop me"). Se fosse uma faixa inteira, tinha toda a cara de ser bem legal mesmo... Pena que resolveram não levar pra frente.

Cumprida mais essa etapa musical, deixamos de lado dezenas de outros exemplos que o leitor, por favor, pode ficar à vontade para enviar. Outras colunas sobre o assunto não faltarão. Aliás, o ponto final do texto é um agradecimento à leitora Fabiane, que recentemente criou uma comunidade no Orkut com base numa das colunas musicais anteriores. O nome, segundo ela escreveu, é Músicas de Propagandas. Eu não estou no Orkut faz tempo, então não tenho o link, mas se você se interessa, é só procurar por lá. Valeu, Fabiane! This picture is hosted by ImageShack