Serial Frila: Cumieira

20 fevereiro 2006

Cumieira

(publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 25 de outubro de 2006)


Aqui na minha terra (pelo menos), chama-se "festa da cumieira" a hora em que o pessoal comemora o fim da construção principal ao terminar a laje - ou "o cume", daí o nome. As coisas e pessoas progridem, dão uma parada pra analisar a situação, observam o que foi feito, fazem uma festinha e então recomeçam.

Nesta coluna, vamos ver como evoluíram séries criticadas, como ficam as opiniões, como podemos retificar as bobagens ditas antes e então tentar uma nova olhada, com atenção a algumas novas temporadas. Tudo ao mesmo tempo, se possível. Mas sem álcool pra mim, valeu.

Lá na primeira coluna, falei sobre Invasion (também conhecida na Warner como a paraguaia "Invasión"). Pretendo voltar atrás em um detalhe que escrevi por lá, mantendo o resto todo intacto. Falei que não existia sutileza na série. Há sutileza sim, muita, e ela veio como ponto positivo, o que significa uma certa contradição no andar da série.

This picture is hosted by ImageShackDepois de reler o texto e assistir aos episódios mais recentes, posso dizer aquela "promessa de coisa ruim" está se concretizando aos poucos - bem aos poucos. A tal contradição estaria nisso: apesar de as evidências berrarem na cara dos envolvidos desde cedo, todo mundo mantinha cara de paisagem. Sobrava à série narrar coisa nenhuma. Sinceramente, os primeiros oito episódios podem facilmente ser comprimidos em uma hora. Era duvidosa? Eu falei lá que era e, até aquele momento, não havia razão nenhuma pra achar o contrário. Hoje, e com perspectivas de hoje, diria que está muito mais pra promissora.

A parte boa (e cada vez melhor!) é que, devagar e quase parando... não paramos! Finalmente estamos chegando em algum lugar. Os vários clichês do começo ficaram meio que estabelecidos e não são mais tão explorados, dando espaço a mais originalidade. Claro que outros continuam aparecendo, mas é uma série de TV...

This picture is hosted by ImageShackQuando o assunto é clichê, infelizmente somos obrigados a dar outra olhada em Supernatural. Teve um momento da temporada até aqui em que eu ia escrever pros estúdios da Warner americana e propôr um novo nome: "Superficial". Convenhamos, superficialidade com altas doses de dramalhão fácil e ação estilizada são o traço mais característico do produtor e diretor McG, como vimos em Fastlane (cuja ação era excelente e tinha a Tiffani Thiessen, então, tanto faz se era superficial), The OC (mais sobre isso no futuro) e nos patéticos filmes d'As Panteras. O pobre aspirante a Tarantino se perde no excesso absurdo de referências que cola em cada capítulo, como se não conseguisse escrever algo de próprio punho e só então inserir algumas citações divertidas.

No mesmo episódio que eu mencionei em outra coluna, sobre Dean Winchester brincar com Ghost Whisperer e Medium (o que foi legal), nosso amigo McG enfiou uma sucessão tão desnecessária de citações que a coisa até perdeu o sentido. O mesmo Dean Winchester deu seu nome falso como "Nigel Tufnel", falou de personagens e filmes de Jack Nicholson, falou de clássicos do terror e, no recheio, mais nomes familiares, falas alheias, reconstituições, menções descaradas, lendas urbanas batidíssimas... Menos, rapaz! Cadê a originalidade?

As histórias principais andaram bem fraquinhas, enquanto a trama paralela da procura pelo pai vinha se fortalecendo e ficando bem mais interessante que o "monstro da semana". Aparece um mistério, os caras comparecem, a explicação sempre está no livro herdado, eles falam rapidinho a respeito pra gente ficar sabendo e resolvem como se fosse um boleto bancário. Estava ficando até maçante, na verdade... E é inexplicável que os mistérios investigados nunca sejam só mistérios humanos e tenham sempre de envolver assuntos sobrenaturais. "Claro", você diria, "é o nome da série!". Mas é coincidência demais que todas as investigações resultem no mesmo. Quer dizer que os Winchester nunca deram com a cara na porta? É uma busca bem conveniente... Nunca seguem uma pista falsa ou erram o caminho...

Então, a trama paralela tomou a frente e estamos voltando a uma boa trilha, com promessas de um desenvolvimento legal. Vamos esperar que tudo entre numa feliz convergência em futuro próximo - busca pelo pai e luta contra os bichos de outro mundo.

This picture is hosted by ImageShackMencionei Medium, e ela é outra que vem pedindo uma reavaliação. Começou ótima, com uma proposta simples - que se mantém - e as histórias continuam razoáveis. Eu preferiria que privilegiassem as policiais, mas é só questão de gosto, porque as mais "domésticas" não são ruins. Mas a execução, antes correta, anda cometendo umas derrapadas monstruosas. Os sonhos de Patricia Arquette estão cada vez mais cafonas, babacas e mal-construídos. E agora ela viu a filha dela na goela dum moleque?? Será que não havia metáforas ou recursos mais interessantes e menos... ridículos? Na contagem geral, continua sendo uma série que vale a pena, sim, vamos prestigiar e torcer para que se mantenha.

Ah, outro resgate de coluna anterior. Falo agora com relação àquela sobre censura. Mantendo tudo o que está lá, faltou acrescentar que essa nova exibição da Warner para The L Word, em condições miseráveis, vem ainda com um hilário "uncensored" ao lado do nome. Não apenas a série continua sofrendo a censura tácita que mencionei como a Warner então admite que a exibição anterior tinha sido podada. Com uma tentativa de conserto, o canal engana (porque ainda censura) e assume que enganou antes (exibindo versão editada sem mencionar o fato). Beleza de canal, realmente!

This picture is hosted by ImageShackQuanto a Two And a Half Men, nada, absolutamente nada a alterar. Mas dá até vontade de xingar um monte quando a gente descobre o quanto Charlie Sheen é burro feito um pacote de Chips no bueiro. Casado com ninguém menos que a divindade Denise Richards e com uma filhinha nova em casa, o cara não conseguiu fugir do velho vício e foi "caçar prostitutas dúzias de vezes", segundo alegam as próprias (link fora do ar). E ainda comete a suprema orelhada de acidentalmente enviar pra esposa um email que era para uma das digníssimas, levando a um divórcio-relâmpago. Mas isso é só a vida pessoal. A série melhora a cada episódio e continua sendo uma das coisas mais engraçadas a que eu já assisti. Nos próximos capítulos, Charlie Harper e aquela professora de balé começam a namorar firme (feito piercing no pudim). Tenho minhas dúvidas sobre o desenvolvimento da coisa, mas sabe Deus o que virá disso...

Outras coisas se mantêm, creio eu. Related continua na mesma linha simpática-sentimentalóide, ER tenta criar pratos novos a partir de um requentado que vinha azedando há tempos, Smallville empilha lixo sobre besteira em cima de bobagem (o pacato fazendeiro original virou um candidato ao senado?? HAH!) e palmas para Will & Grace, que já rendeu o que deveria e teve o bom senso de anunciar sua última temporada descendo a ladeira com força. Uma que deveria ter feito o mesmo é That '70s Show, que já acabou faz umas três temporadas e ainda não descobriu isso. Tudo bem, também já anunciou seu fim, mas veio tarde demais, porque hoje a série já não rende nem esboço de sorriso e costuma dar é raiva. Uma pena, começou muito bem...

This picture is hosted by ImageShackEnquanto isso, há quem consiga se reerguer com maestria. The King of Queens tem conseguido manter um fôlego incrível, mesmo depois de quase ser cancelada na última temporada por razões contratuais e de audiência. Com o fim de Everybody Loves Raymond, a CBS deu uma mexida em dias e horários de sua grade e a série de Kevin James e Leah Remini (já sem Nicole Sullivan, que foi para Hot Properties e deu de cara com um merecido cancelamento) foi bastante privilegiada. Os escritores têm mantido a série bem simples, com humor genuíno, as atuações continuam excelentes, a audiência foi lá em cima de novo e parece que o céu reabriu sobre a casa dos Heffernan.

This picture is hosted by ImageShackOutra que andou patinando foi Joey, que entrou em sua segunda temporada subindo no telhado. Vem alternando tiradas ótimas com piadinhas e soluções óbvias demais e ficou sob séria ameaça de nem voltar para os episódios finais da temporada, depois de um recesso forçado. Agora, conseguiu sinal verde da NBC - pelo menos até o fim dessa segunda etapa. Dois problemas principais cercam a série. O primeiro eu digo por minha conta: é impressão ou o personagem Joey Tribbiani cada vez se distancia mais daquele que conhecemos em Friends? Se é uma derivada que quer fazer sucesso usando um personagem preexistente, então, que mantenham o personagem. Mas ele anda meio arrogante demais, agressivo demais, "espertinho" demais e até mesmo um pouco burro demais, por contraditório que possa parecer. O segundo problema é que American Idol vai ao ar no mesmo horário, pela rede CBS. Ou seja, se não levantar audiência, bye bye, Joey.

This picture is hosted by ImageShackPessoalmente, credito muito da melhora recente a Andrea Anders (a vizinha Alex), que não apenas conseguiu ficar ainda mais bonita, como também, de algum modo, dobrou de rendimento em sua atuação. Deram espaço para a louca da Jennifer Coolidge (a empresária) e criaram Zach (Miguel Nuñez), o amigo ator. Os roteiros estão um pouquinho mais inteligentes também, no geral, mas aquela impressão inicial da série, que espantou um monte de gente e em especial os fãs de Friends, ainda vai ser complicada de driblar.

Sobre o recomeço, vamos ficar, por enquanto, com o pessoal que reestreou no Brasil esta semana. Desperate Housewives recomeçou corretíssima e no mesmo passo em que vinha: desenvolvimento natural da história, mais revelações chocantes, mais mistérios para uma temporada inteira, mais insanidade feminina e a mesma dose de diversão. Grey's Anatomy, por outro lado, saiu do cantinho dos despretensiosos e dá pra perceber, no elenco e na trama, que a série se apresenta com outro clima. Também retomou do exato ponto em que parou, sem problemas, e parece que vai se sair bem.

Tive uma certa decepção com a nova temporada de Scrubs. Não tenho dúvidas de que ainda é uma das melhores séries na TV, mas esse quinto ano começou bastante fraco, especialmente se comparado com todo o resto da série ou com os capítulos de estréia anteriores. Foi um excesso de gracinhas, um apelo fácil demais ao pastelão e àquela maluquice que sempre esteve presente. Não precisava disso... Os episódios seguintes vêm reerguendo a coisa, e a Dra. Reid readmitida no hospital Sacred Heart (numa ótima reviravolta, aliás) já é um bom indício. Infelizmente, o elenco fica mais caricato a cada dia e isso pode enterrar a série precocemente.

This picture is hosted by ImageShackE quando diabos a Fox vai anunciar a volta de Nip/Tuck? A terceira temporada, que teve meros 14 episódios (contra 13 na primeira e 16 na segunda), começou a ser exibida em setembro lá fora e já até acabou. O brasileiro Bruno Campos, convidado no fim da temporada anterior, vira um personagem fixo, e o primeiro capítulo gerou um pau danado entre os ianques.

Quem mais estreou mesmo? Ah, sim, Beautiful People. Finja que não existe. A série vem de um canal "família" e é aquela chatura à la 7th Heaven, entupida de clichês adolescentes. Está atualmente em suspenso com poucas chances de retorno. O que impressiona é a semelhança This picture is hosted by ImageShackentre a mãe e a filha, belíssimas. São elas a veterana Daphne Zuniga (American Dreams, Melrose Place e a "princesa Leia" da paródia Spaceballs) e a novata Sarah Foret, uma graça de menina.

E, claro, há American 'Fucking' Idol. Não vejo, não vi, não verei, por mais que alguns amigos digam que é engraçado demais. Um programa que transforma gente como Clay Aiken, Fantasia Barrino, Kelly Clarkson e William Hung (!) em celebridades não merece qualquer respeito... Menos ainda o tal Simon enrustido... This picture is hosted by ImageShack