Serial Frila: Música serial - vol. 3

14 março 2006

Música serial - vol. 3

(publicado originalmente em 14 de março de 2006)
(revisado e republicado aqui em 16 de novembro de 2006)


Howdy! Depois de umas férias meio forçadas, cá estamos de volta. Para pedir desculpas dignamente aos leitores assíduos da coluna, todos os dois, vamos retomar com mais música nas séries. Vale esclarecer: se você entrou aqui procurando pela escola do serialismo na música (de Boulez ou Stockhausen), lugar errado! Pedimos desculpas; o título foi apenas um trocadilho (besta) para relacionar assuntos.

This picture is hosted by ImageShackBem, eu já tinha dito que o assunto é extenso paca e não adiantava tentar falar tudo. Mas as colunas anteriores (essa e essa) foram tão divertidas de fazer e renderam tão bom feedback que acho uma boa repetir, e quem sabe até outras vezes.

Logo de cara, vamos eliminar o terreno pantanoso. Estava vendo a sempre excelente Two and a Half Men outro dia. Ela acabou, eu dei uma pastada no sofá e não percebi que começava o tão falado episódio 100 da condenada Smallville. Logo naqueles primeiros segundos, uma musiquinha muito ruim, uma melequeira danada, começou a tocar e me chamou a atenção. "Como é possível esse troço tão ruim ser familiar?", foi o que pensei, prestes a desligar a TV. Parei pra prestar mais atenção e consegui desvendar o estranhamento. Tratava-se do tema do Hulk, mas em uma série (que deveria ser) sobre o Super-Homem! "WTF...??"

This picture is hosted by ImageShackExplicando: o atual queridinho da bobajada musical, um tal James Blunt, era quem uivava na série essa música que, vim a saber, se chama You're Beautiful. Repare que o riff principal no violão é exatamente o famoso tema tristíssimo de piano chamado The Lonely Man Theme, que encerrava os episódios de O Incrível Hulk com o Dr. Banner andando para o horizonte ou para uma estrada poeirenta, a imagem da solidão. Dê seu jeito de ouvir a baba do amigo Blunt e depois confira o pianinho do Hulk aqui. Plágio? Sampleagem? Homenagem? Meu nome pra isso é oportunismo safado e tremenda cara-de-pau em cima de uma melodia que já se sabia que tinha apelo emocional forte.

This picture is hosted by ImageShackLogo em seguida, em Supernatural, série muito melhor que passa logo depois da super-fraude, Dean sofre um choque elétrico, sobrevive à parada com o coração debilitado e seu irmão Sam então resolve procurar um curandeiro. Mais pra frente, no momento em que os Winchester percebem que estão lidando com um agente da morte, ou seja, um "ceifador" ("reaper", no original), um clássico do rock - como é o costume da série - cria o clima de fundo e introduz o personagem. Feliz "coincidência" de tema e boa música, com o Blue Öyster Cult tocando a excelente Don't Fear The Reaper ("não tenha medo do ceifador"). Musicão, viu? Eu nem sou muito de recomendar mofo-metal, porque já cansou, mas essa é menos tocada por aí e ainda dá pra assinar embaixo na boa!

This picture is hosted by ImageShackSe o tema é rock, mas com representantes mais recentes, podemos destacar o tema da série Rescue Me, sobre bombeiros, que passa no canal FX - um canal que promete muito em termos de séries, aliás! This picture is hosted by ImageShackA ótima música de abertura é C'Mon, C'Mon, dos Von Bondies. Vale procurar, sem dúvida. Pra quem acompanha assuntos musicais, o vocalista da banda é aquele cara que era protegido de Jack White, dos White Stripes, mas acabou levando uma muqueta do "amigão" e foi prestar queixa. O produto dos esforços de White você vê aí ao lado...

This picture is hosted by ImageShackOutra banda recente que acabou virando tema legal de série é um povo chamado OK Go. Beleza, não é exatamente uma grande banda, mas tem seus momentos divertidos. Um deles é justamente a abertura da série Twins, a qual segue a mesma linha "razoável-com-momentos". O problema da música ("Sister, sister, come on, let's rock the boat") é que ela ainda não existe em disco algum e aparentemente foi composta exclusivamente para a ocasião. Com aquele riff simpático, a banda deveria soltar isso aí pra gente conhecer melhor e eles ganharem pontos... Enquanto eles não aproveitam a oportunidade, fique com o divertidaço clipe da ótima A Million Ways, do OK Go.

This picture is hosted by ImageShackAinda em termos de rock, me intrigou um comercial das Gilmore Girls (mais sobre ela em breve). Não assisto à série, mas mesmo assim posso contribuir com alguma coisa pra quem se interessa. Na referida propaganda, o camarada fala sobre "a volta dos Hep Aliens" - a banda com a japonesinha na bateria. Pelo que eu pesquisei, seria o mesmo que dizer "os Coldplays estão de volta" ou "os Green Days vão tocar". Ou seja, não existe. Mas é claro que está errado, é na Warner! Não culpe o locutor, ele é só mal-guiado... Não foi ele que inventou dois personagens novos chamados "Greg" e "Gina" para Reunion. Talvez estivessem nos futuros capítulos da série cancelada e o sujeito que supervisiona a locução até saiba mais que a gente, oh, yeah...

This picture is hosted by ImageShack (Alguém recolhe a linha e Rodrigo volta à Terra). Bom, o nome da tal banda é Hep Alien e é um dos nomes de banda mais babacas que eu já ouvi. A tradução é algo como "alienígena movido a hidroeletricidade". No comercial em questão, a música que esse povo está tocando é Hanging On The Telephone, não exatamente um dos grandes clássicos do Blondie, que você certamente conhece de outras faixas, como Call Me, Heart of Glass, One Way Or Another ou a recente baba Maria. Mas é uma das boas coisas menores do Blondie e merece a busca.

This picture is hosted by ImageShackFalando em série a que eu ainda não assisti, vamos à engraçada Weeds. Bem, na verdade até vi um pouco, sim, mas faltou tempo. No fim do ano passado, ela ganhou segunda temporada (que poderia ser considerada improvável, dado o final da primeira), e ainda está para reestrear nos EUA. A faixa-tema virou objeto de controvérsia na internet, por alguma razão. Muita gente a considerou "apropriada, engraçada e leve", mas também houve o pessoal do "estranha, horrorosa, desafinada e tosca", como também definiu minha mãe, que gostou do que viu, mas não do que ouviu. This picture is hosted by ImageShackA musiquinha, um genuíno folk, se chama Little Boxes, e a velhinha cantora atende por Malvina Reynolds. Trata-se de uma ativista que, na década de 60, se empolgou com a movimentação que florescia entre os jovens e resolveu fazer parte daquilo, compondo naquele contexto já com uma idade respeitável.

As referências ao tema central da série, então, ficam mais claras. A mãe de família completa o orçamento vendendo maconha nos subúrbios, onde tudo parece belo, mas não é exatamente santo (vide Desperate Housewives ou Close To Home, por exemplo). A senhora Reynolds, ao adotar a postura jovem da época, certamente queria ver a revolução de costumes avançar sobre a pasmaceira suburbana e, convenhamos, andou envolvida com a erva de alguma forma, mesmo que implicitamente. Little Boxes criticava exatamente as "caixinhas mal-construídas, todas iguais, ao lado das montanhas". Não sei qual a ironia maior: se é o fato de a coisa ter realmente chegado ao subúrbio "quadradão" ou se é usar essa música, originalmente crítica, como tema...

This picture is hosted by ImageShackEm notas músico-televisivas à parte, devo dizer que ainda tenho esperança de que Hysteria, do Muse, vire abertura de alguma série. O começo da faixa tem toda a cara de série policial sofisticada ou de suspense, casaria bem com uma abertura estilosa. E a outra coisa é que sou um entusiasta dos torrents legalizados e vejo sempre menções à banda Crosby, Stills, Nash & Young como "CSNY". Não é raro eu confundir tudo e me perguntar o que um episódio de CSI: New York estaria fazendo no meio daqueles shows. Então, pra tentar parar a mistureba, inventei que o glorioso Tony Iommi levaria mais peso àquele pessoal - e daí um CSI:NY. Nem precisa dizer que isso, claro, piorou bastante a bagunça mental...
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