Serial Frila: setembro 2006

11 setembro 2006

Os pingos nos Emmys

This picture is hosted by ImageShackUma cerimônia conservadora.

Parece redundante dizer que a entrega dos Emmys em 2006 foi exatamente isso, já que as cerimônias desse naipe são sempre quadradésimas, mas a mais recente teve motivos especiais para esse adjetivo. As surpresas positivas, em termos de prêmios, foram bem poucas, enquanto as negativas aconteceram em grande número. Já as questões que estavam realmente em discussão acabaram indo pelo caminho mais convencional, fugindo de novidades, da aclamação do público e deixando pra lá as inovações - o que não precisa ser algo assim tão ruim.

Mas vamos por partes.

This picture is hosted by ImageShackO esquete de abertura com o apresentador Conan O'Brien foi bem divertido (veja no YouTube), com cenas gravadas em algumas séries especialmente para a ocasião. Mesmo assim, os americanos com suas preocupações descabidas deram jeito de achar ruim. A parte em que O'Brien atua numa paródia do acidente de Lost rendeu críticas à NBC por conta do desastre aéreo que aconteceu em Lexington, no estado do Kentucky. O povo reclamou mesmo da relação - que não existe! - entre os dois acontecimentos, alegando "muito mau gosto". Importante observar que, no esquete, nem mesmo há um acidente!

Então, o que a NBC deveria fazer? Cancelar a espetacular seqüência pré-gravada? Mutilar a abertura, mantendo 24, The Office e as demais? Fazer um papelão pro mundo, ao invés de um pretenso papelão para meia-dúzia no Kentucky? Isso lembra aquela época em que qualquer coisa que remetesse a "duas torres" (incluindo até O Senhor dos Anéis!) passou a ser "proibido". Get over yourselves, stupid yankees!

This picture is hosted by ImageShackMerecem destaque também as duas homenagens especiais da noite. Dick Clark, uma daquelas lendas sem tamanho da TV americana, apareceu no palco para ser homenageado, depois de um derrame sofrido em 2004 que o levou a um longo período de reclusão. Para alguém que, durante décadas, esteve todo santo dia na casa das pessoas, a dificuldade de andar ou de se expressar como um grande apresentador poderia ter minado o ânimo de Clark. Mas o cara apareceu mesmo por lá, e a homenagem enquanto ele ainda está vivo foi bastante justa e oportuna.

Aaron Spelling, já falecido, foi o outro homenageado. Nada de grande novidade, já que o assunto foi discutido por um bom tempo antes da cerimônia, devido aos problemas envolvendo a herança milionária do produtor.This picture is hosted by ImageShack O que levou muita gente a abrir a boca durante a homenagem foi a histórica reunião d'As Panteras no palco. Falamos das originais - Kate Jackson, Farrah Fawcett e Jaclyn Smith (continua a mais bonita, como sempre achei) de mãos dadas, agradeceram a Spelling em discursos individuais.


Os dramas na comédia

The Office, premiada como melhor série de comédia, vem mesmo numa carreira excepcional e levou um prêmio correto, sem sustos. Começou morna e já vem fervendo há muitos capítulos, realmente hilária, muito bem escrita e com atuações inspiradas. Só penso que Arrested Development merecia ganhar nessa categoria como consolação pelo seu cancelamento e como reconhecimento ao programa mais hilário e inteligente da TV durante seu curto percurso, sem qualquer comparação com outro show.

This picture is hosted by ImageShackDas que ainda estão em produção (e às quais já assisti pelo menos uma vez), não há dúvida de que The Office é a melhor comédia, logo à frente de Two and a Half Men, também indicada. A série de Charlie Sheen e Jon Cryer, ambos indicados, traz humor muito politicamente incorreto e provavelmente nunca vai ganhar prêmios desse tipo. Já Scrubs, tida antes como a favorita na categoria, perdeu com justiça. A mais recente temporada, ainda que com bons momentos, foi bem fraca e muito distante da genialidade das temporadas anteriores. E isso tudo considerando que eu nunca vi Curb Your Enthusiasm. HBO é muito caro...

Aliás, estendendo o assunto, o FX mostrar The Office junto com My Name Is Earl (que nem foi indicada) tem sido covardia. Earl começou enormemente promissora e, depois de certo ponto, não cumpriu mais quase nada. As histórias atuais estão "muito sorriso, pouca risada". Não por acaso, a série acabou mesmo ganhando algo só pelo seu excelente piloto (em direção e roteiro) e duas categorias técnicas. Por outro lado, na categoria de melhor atriz coadjuvante em comédias, não apenas Jaime Pressly (a Joy) era a favorita como merecia levar o prêmio sem qualquer dúvida. Foi uma perda bastante injusta. Digo, Megan Mullally (Will & Grace) de novo pra quê??

Steve Carell, o chefe Michael Scott em The Office, foi outro injustiçado nesse sentido. Assim como Mullally bateu Pressly (ou mesmo Elizabeth Perkins, de Weeds) sem qualquer justificativa, dar o prêmio de melhor ator de série de comédia pela terceira vez para Tony Shalhoub (Monk) e negá-lo a Carell (ou até mesmo a Charlie Sheen) foi chover no molhado; foi lugar-comum e, considerando as outras opções, foi desmerecido mesmo. Até o próprio vencedor Shalhoub reconheceu isso!

This picture is hosted by ImageShackAgora, merecidamente ou não, não importa: foi muito legal ver Julia Louis-Dreyfus, lindona aos 45, levando o prêmio de melhor atriz principal numa série de comédia por The New Adventures of Old Christine. Com apenas uma temporada e uma série que não é exatamente a última Coca-Cola no deserto (até agora), sua boa atuação já foi reconhecida. Mais importante: enquanto Michael Richards e Jason Alexander (Cosmo Kramer e George Costanza, em Seinfeld) jamais conseguiram sair de seus personagens quando em outras produções, Dreyfus encarou muito bem um papel que guarda pouca relação com sua Elaine Benes e assim conseguiu quebrar a "maldição de Seinfeld". Soube fazer diferente, ser diferente, e foi recompensada por isso. Não à tôa, Dreyfus foi a mais visivelmente emocionada durante o discurso dos ganhadores e soltou um "curse this, baby!" quase chorando.

Para melhor ator coadjuvante de série de comédia escolheram Jeremy Piven, que é realmente um ator bem talentoso, mas que eu nunca pude ver em Entourage. Dizem que a série é realmente ótima, mas HBO é muito caro... Eu já disse isso?This picture is hosted by ImageShack Tanto Jon Cryer quanto o ótimo Will 'GOB' Arnett também poderiam ter ganhado fácil aqui, mas não foram injustiçados. Seria ruim é se também tivessem chovido no molhado com Sean Hayes como fizeram com Megan Mullally.


Só risadas no drama

Grey's Anatomy, com justiça, não levou absolutamente nada e vem sendo encarada por todos os fãs, colunistas e internautas em geral como a grande perdedora da noite. Tentando não ser muito parcial aqui, mantenho o que eu disse na Serial Frila anterior: trata-se de uma série cada vez mais aborrecida e mais enganadora em muitos aspectos. O grande público adora um novelão açucarado e pouco realista...

Um bom motivo para tentar ser imparcial acima é lembrar que Lost também foi uma das esnobadas - até mesmo em indicações, na verdade. No esquete de abertura com O'Brien, Hurley lamenta "Nós nem fomos convidados este ano...". Até agora, não se sabe bem o porquê disso, mas tanto Lost quanto Grey's são líderes de audiência e são da ABC. Alguma relação? Pelo menos os Emmys nos deram mais uma chance de ver Ellen Pompeo (Meredith Grey) e Evangeline Lilly (a Kate de Lost) como você vê nas imagens ao lado. Não precisa explicar muito...

A compensação veio na forma de 24. Afinal, que outra série vinha merecendo há tempos todos os prêmios possíveis nas categorias principais de drama? Não apenas foi eleita a melhor série dramática, mas também deu a Kiefer Sutherland o justíssimo reconhecimento como melhor ator de série dramática pelo papel de sua vida. Convenhamos, surpresa nenhuma e apenas a correção de um grande atraso. Antes tarde do que nunca. I'm a sucker for Jack Bauer...

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24 ainda rendeu um prêmio de melhor direção ao esforçadíssimo Jon Cassar, que já comandou quase 100 episódios da série, e mais dois prêmios técnicos, em edição e trilha sonora.

Uma das grandes surpresas da noite ficou por conta de Mariska Hargitay como melhor atriz de série dramática por Law & Order: Special Victims Unit. This picture is hosted by ImageShackNão que ela não merecesse, pelo contrário. Seu trabalho em SVU, assim como o de Christopher Meloni, é dos mais consistentes. Mas a grande torcida por ela já tinha se resignado em perder para qualquer uma das outras quatro indicadas (Frances Conroy, Geena Davis, Allison Janney e Kyra Sedgwick), numa das categorias mais fortes da noite. Todas as indicadas já haviam sido premiadas aqui ou ali por seus respectivos papéis (inclusive Hargitay, no Golden Globe 2005). Ainda assim, darem o prêmio à filha da lendária blonde bombshell Jayne Mansfield foi surpreendente.

Como coadjuvantes em série dramática, venceram Alan Alda (The West Wing) e Blythe Danner (Huff). Foram ambos casos de supresa estranha e prêmio merecido ao mesmo tempo. Isso porque são realmente dois ótimos atores - não assisti às participações de nenhum dos dois em suas séries, mas são ótimos pelo conjunto do que eu já vira antes. Só que havia gente considerada bem mais forte nas categorias em questão. Para ficar no óbvio, Michael Imperioli (The Sopranos) e Gregory Itzin (24 Horas) estavam com tudo na seção masculina, e Sandra Oh e Chandra Wilson concorriam ambas pela favorita Grey's Anatomy. Bem, de forma alguma esses dois prêmios chegaram a ser problema. Para desbancar Grey's, Blythe Danner chegou até como solução...

This picture is hosted by ImageShackDe resto, foi muito engraçado (e triste) ver o über-barango e incrivelmente deformado Barry Manilow ganhar de gente bem melhor que ele na categoria de performance individual em musical ou variedades. Uma das boas piadas da noite, aliás, foi quando Stephen Colbert, um dos derrotados para Manilow, improvisou uma lamentação hilária ao lado de Jon Stewart enquanto ambos apresentavam outra categoria. Em termos de boa animação, Os Simpsons não merecem qualquer prêmio já há muitas temporadas, mas levaram assim mesmo, numa das maiores demonstrações de comodismo dos Emmys 2006. Basta lembrar que Family Guy e South Park também concorriam. O desenho sofre do mesmo mal que levou That '70s Show para o buraco: "zumbismo". Já morreu, esqueceu de deitar e ainda vai cambalear por mais umas cinco temporadas sem-graça, segundo afirmou recentemente o criador Matt Groening.

Enquanto isso, no Brasil, Fernanda Young e Rita Lee pretendem ter um programa seriado juntas. O nome inicial: "As Erradas". Pelo menos começaram certo. E nem devem continuar por mais do que umas três edições, a não ser que pretensão afetada e senilidade inconveniente vendam alguma coisa. This picture is hosted by ImageShack