Serial Frila: fevereiro 2006

20 fevereiro 2006

Cumieira

(publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 25 de outubro de 2006)


Aqui na minha terra (pelo menos), chama-se "festa da cumieira" a hora em que o pessoal comemora o fim da construção principal ao terminar a laje - ou "o cume", daí o nome. As coisas e pessoas progridem, dão uma parada pra analisar a situação, observam o que foi feito, fazem uma festinha e então recomeçam.

Nesta coluna, vamos ver como evoluíram séries criticadas, como ficam as opiniões, como podemos retificar as bobagens ditas antes e então tentar uma nova olhada, com atenção a algumas novas temporadas. Tudo ao mesmo tempo, se possível. Mas sem álcool pra mim, valeu.

Lá na primeira coluna, falei sobre Invasion (também conhecida na Warner como a paraguaia "Invasión"). Pretendo voltar atrás em um detalhe que escrevi por lá, mantendo o resto todo intacto. Falei que não existia sutileza na série. Há sutileza sim, muita, e ela veio como ponto positivo, o que significa uma certa contradição no andar da série.

This picture is hosted by ImageShackDepois de reler o texto e assistir aos episódios mais recentes, posso dizer aquela "promessa de coisa ruim" está se concretizando aos poucos - bem aos poucos. A tal contradição estaria nisso: apesar de as evidências berrarem na cara dos envolvidos desde cedo, todo mundo mantinha cara de paisagem. Sobrava à série narrar coisa nenhuma. Sinceramente, os primeiros oito episódios podem facilmente ser comprimidos em uma hora. Era duvidosa? Eu falei lá que era e, até aquele momento, não havia razão nenhuma pra achar o contrário. Hoje, e com perspectivas de hoje, diria que está muito mais pra promissora.

A parte boa (e cada vez melhor!) é que, devagar e quase parando... não paramos! Finalmente estamos chegando em algum lugar. Os vários clichês do começo ficaram meio que estabelecidos e não são mais tão explorados, dando espaço a mais originalidade. Claro que outros continuam aparecendo, mas é uma série de TV...

This picture is hosted by ImageShackQuando o assunto é clichê, infelizmente somos obrigados a dar outra olhada em Supernatural. Teve um momento da temporada até aqui em que eu ia escrever pros estúdios da Warner americana e propôr um novo nome: "Superficial". Convenhamos, superficialidade com altas doses de dramalhão fácil e ação estilizada são o traço mais característico do produtor e diretor McG, como vimos em Fastlane (cuja ação era excelente e tinha a Tiffani Thiessen, então, tanto faz se era superficial), The OC (mais sobre isso no futuro) e nos patéticos filmes d'As Panteras. O pobre aspirante a Tarantino se perde no excesso absurdo de referências que cola em cada capítulo, como se não conseguisse escrever algo de próprio punho e só então inserir algumas citações divertidas.

No mesmo episódio que eu mencionei em outra coluna, sobre Dean Winchester brincar com Ghost Whisperer e Medium (o que foi legal), nosso amigo McG enfiou uma sucessão tão desnecessária de citações que a coisa até perdeu o sentido. O mesmo Dean Winchester deu seu nome falso como "Nigel Tufnel", falou de personagens e filmes de Jack Nicholson, falou de clássicos do terror e, no recheio, mais nomes familiares, falas alheias, reconstituições, menções descaradas, lendas urbanas batidíssimas... Menos, rapaz! Cadê a originalidade?

As histórias principais andaram bem fraquinhas, enquanto a trama paralela da procura pelo pai vinha se fortalecendo e ficando bem mais interessante que o "monstro da semana". Aparece um mistério, os caras comparecem, a explicação sempre está no livro herdado, eles falam rapidinho a respeito pra gente ficar sabendo e resolvem como se fosse um boleto bancário. Estava ficando até maçante, na verdade... E é inexplicável que os mistérios investigados nunca sejam só mistérios humanos e tenham sempre de envolver assuntos sobrenaturais. "Claro", você diria, "é o nome da série!". Mas é coincidência demais que todas as investigações resultem no mesmo. Quer dizer que os Winchester nunca deram com a cara na porta? É uma busca bem conveniente... Nunca seguem uma pista falsa ou erram o caminho...

Então, a trama paralela tomou a frente e estamos voltando a uma boa trilha, com promessas de um desenvolvimento legal. Vamos esperar que tudo entre numa feliz convergência em futuro próximo - busca pelo pai e luta contra os bichos de outro mundo.

This picture is hosted by ImageShackMencionei Medium, e ela é outra que vem pedindo uma reavaliação. Começou ótima, com uma proposta simples - que se mantém - e as histórias continuam razoáveis. Eu preferiria que privilegiassem as policiais, mas é só questão de gosto, porque as mais "domésticas" não são ruins. Mas a execução, antes correta, anda cometendo umas derrapadas monstruosas. Os sonhos de Patricia Arquette estão cada vez mais cafonas, babacas e mal-construídos. E agora ela viu a filha dela na goela dum moleque?? Será que não havia metáforas ou recursos mais interessantes e menos... ridículos? Na contagem geral, continua sendo uma série que vale a pena, sim, vamos prestigiar e torcer para que se mantenha.

Ah, outro resgate de coluna anterior. Falo agora com relação àquela sobre censura. Mantendo tudo o que está lá, faltou acrescentar que essa nova exibição da Warner para The L Word, em condições miseráveis, vem ainda com um hilário "uncensored" ao lado do nome. Não apenas a série continua sofrendo a censura tácita que mencionei como a Warner então admite que a exibição anterior tinha sido podada. Com uma tentativa de conserto, o canal engana (porque ainda censura) e assume que enganou antes (exibindo versão editada sem mencionar o fato). Beleza de canal, realmente!

This picture is hosted by ImageShackQuanto a Two And a Half Men, nada, absolutamente nada a alterar. Mas dá até vontade de xingar um monte quando a gente descobre o quanto Charlie Sheen é burro feito um pacote de Chips no bueiro. Casado com ninguém menos que a divindade Denise Richards e com uma filhinha nova em casa, o cara não conseguiu fugir do velho vício e foi "caçar prostitutas dúzias de vezes", segundo alegam as próprias (link fora do ar). E ainda comete a suprema orelhada de acidentalmente enviar pra esposa um email que era para uma das digníssimas, levando a um divórcio-relâmpago. Mas isso é só a vida pessoal. A série melhora a cada episódio e continua sendo uma das coisas mais engraçadas a que eu já assisti. Nos próximos capítulos, Charlie Harper e aquela professora de balé começam a namorar firme (feito piercing no pudim). Tenho minhas dúvidas sobre o desenvolvimento da coisa, mas sabe Deus o que virá disso...

Outras coisas se mantêm, creio eu. Related continua na mesma linha simpática-sentimentalóide, ER tenta criar pratos novos a partir de um requentado que vinha azedando há tempos, Smallville empilha lixo sobre besteira em cima de bobagem (o pacato fazendeiro original virou um candidato ao senado?? HAH!) e palmas para Will & Grace, que já rendeu o que deveria e teve o bom senso de anunciar sua última temporada descendo a ladeira com força. Uma que deveria ter feito o mesmo é That '70s Show, que já acabou faz umas três temporadas e ainda não descobriu isso. Tudo bem, também já anunciou seu fim, mas veio tarde demais, porque hoje a série já não rende nem esboço de sorriso e costuma dar é raiva. Uma pena, começou muito bem...

This picture is hosted by ImageShackEnquanto isso, há quem consiga se reerguer com maestria. The King of Queens tem conseguido manter um fôlego incrível, mesmo depois de quase ser cancelada na última temporada por razões contratuais e de audiência. Com o fim de Everybody Loves Raymond, a CBS deu uma mexida em dias e horários de sua grade e a série de Kevin James e Leah Remini (já sem Nicole Sullivan, que foi para Hot Properties e deu de cara com um merecido cancelamento) foi bastante privilegiada. Os escritores têm mantido a série bem simples, com humor genuíno, as atuações continuam excelentes, a audiência foi lá em cima de novo e parece que o céu reabriu sobre a casa dos Heffernan.

This picture is hosted by ImageShackOutra que andou patinando foi Joey, que entrou em sua segunda temporada subindo no telhado. Vem alternando tiradas ótimas com piadinhas e soluções óbvias demais e ficou sob séria ameaça de nem voltar para os episódios finais da temporada, depois de um recesso forçado. Agora, conseguiu sinal verde da NBC - pelo menos até o fim dessa segunda etapa. Dois problemas principais cercam a série. O primeiro eu digo por minha conta: é impressão ou o personagem Joey Tribbiani cada vez se distancia mais daquele que conhecemos em Friends? Se é uma derivada que quer fazer sucesso usando um personagem preexistente, então, que mantenham o personagem. Mas ele anda meio arrogante demais, agressivo demais, "espertinho" demais e até mesmo um pouco burro demais, por contraditório que possa parecer. O segundo problema é que American Idol vai ao ar no mesmo horário, pela rede CBS. Ou seja, se não levantar audiência, bye bye, Joey.

This picture is hosted by ImageShackPessoalmente, credito muito da melhora recente a Andrea Anders (a vizinha Alex), que não apenas conseguiu ficar ainda mais bonita, como também, de algum modo, dobrou de rendimento em sua atuação. Deram espaço para a louca da Jennifer Coolidge (a empresária) e criaram Zach (Miguel Nuñez), o amigo ator. Os roteiros estão um pouquinho mais inteligentes também, no geral, mas aquela impressão inicial da série, que espantou um monte de gente e em especial os fãs de Friends, ainda vai ser complicada de driblar.

Sobre o recomeço, vamos ficar, por enquanto, com o pessoal que reestreou no Brasil esta semana. Desperate Housewives recomeçou corretíssima e no mesmo passo em que vinha: desenvolvimento natural da história, mais revelações chocantes, mais mistérios para uma temporada inteira, mais insanidade feminina e a mesma dose de diversão. Grey's Anatomy, por outro lado, saiu do cantinho dos despretensiosos e dá pra perceber, no elenco e na trama, que a série se apresenta com outro clima. Também retomou do exato ponto em que parou, sem problemas, e parece que vai se sair bem.

Tive uma certa decepção com a nova temporada de Scrubs. Não tenho dúvidas de que ainda é uma das melhores séries na TV, mas esse quinto ano começou bastante fraco, especialmente se comparado com todo o resto da série ou com os capítulos de estréia anteriores. Foi um excesso de gracinhas, um apelo fácil demais ao pastelão e àquela maluquice que sempre esteve presente. Não precisava disso... Os episódios seguintes vêm reerguendo a coisa, e a Dra. Reid readmitida no hospital Sacred Heart (numa ótima reviravolta, aliás) já é um bom indício. Infelizmente, o elenco fica mais caricato a cada dia e isso pode enterrar a série precocemente.

This picture is hosted by ImageShackE quando diabos a Fox vai anunciar a volta de Nip/Tuck? A terceira temporada, que teve meros 14 episódios (contra 13 na primeira e 16 na segunda), começou a ser exibida em setembro lá fora e já até acabou. O brasileiro Bruno Campos, convidado no fim da temporada anterior, vira um personagem fixo, e o primeiro capítulo gerou um pau danado entre os ianques.

Quem mais estreou mesmo? Ah, sim, Beautiful People. Finja que não existe. A série vem de um canal "família" e é aquela chatura à la 7th Heaven, entupida de clichês adolescentes. Está atualmente em suspenso com poucas chances de retorno. O que impressiona é a semelhança This picture is hosted by ImageShackentre a mãe e a filha, belíssimas. São elas a veterana Daphne Zuniga (American Dreams, Melrose Place e a "princesa Leia" da paródia Spaceballs) e a novata Sarah Foret, uma graça de menina.

E, claro, há American 'Fucking' Idol. Não vejo, não vi, não verei, por mais que alguns amigos digam que é engraçado demais. Um programa que transforma gente como Clay Aiken, Fantasia Barrino, Kelly Clarkson e William Hung (!) em celebridades não merece qualquer respeito... Menos ainda o tal Simon enrustido... This picture is hosted by ImageShack

09 fevereiro 2006

É poda!

(publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 25 de outubro de 2006)


A coluna da semana nasce de um feedback de um leitor. Aliás, é a primeira vez que falo disso e devo dizer que os comentários têm sido excelentes (elogiosos ou não), mantendo o nível da "conversa", sem os habituais adolescentes escrevendo palavrões gratuitos em caixa alta e defendendo bobagens sem argumento. Obrigado!

This picture is hosted by ImageShackO comentário em questão foi feito com relação à série Sex And The City, antes exibida pelo canal Multishow e hoje reprisada exaustivamente pela Fox, segundo contou o leitor. Curiosamente, ele pergunta se não deveria haver censura nos episódios que são reexibidos muito cedo e com todas aquelas insinuações de sexo (na verdade, estão mais para demonstrações, mesmo) e demais situações, digamos, íntimas. Deixo claro que ele pergunta, e não necessariamente pede que haja.

Enviei meu comentário, mas aproveito este espaço de coluna para estender o assunto, porque ele continua presente nas atitudes das redes e nas cabeças de quase todo mundo, contra ou a favor. Aliás, censura vai ser sempre um assunto pertinente, pelas mesmas razões que mencionei na coluna sobre edição em reality shows. A democracia e a "permissão" para pessoas diferentes pensarem livremente leva tanto a resultados positivos quanto a negativos - e daí a abusos de liberdade e abusos de censura.

Não tenho acompanhado Sex And The City na Fox porque sou humano e há vida fora da TV, né? Depois de assistir a boa parte da coisa no Multishow, nem sei em que horário passa na Fox. Mas sou partidário de que, seja na hora do almoço, no sábado de manhã ou de madrugada (tudo depende de bom senso da emissora), cortes em obras de cultura ou de arte, em qualquer acepção dessas palavras, sempre foram e sempre serão ofensas muito maiores do que o que foi cortado, tanto para o espectador quanto (e principalmente) para os profissionais que se empenharam para construir a obra ora mutilada. Transcende em quantidade - imagine o número de censurados e descontentes e o de "reais beneficiados" (nenhum) pela poda - e em qualidade - humilham profissionais publicamente em troca de nada e oferecem uma obra porca, incompleta.

This picture is hosted by ImageShackModeração na forma de autocrítica e bom-senso sempre são proveitosos, mas a censura por excesso de zelo é um veneno que deve ser erradicado sem dó, porque é algo sem controle. Uma vez que se permite um precedente, não se sabe o que virá depois. É como a pena de morte: todo mundo acha - eu incluído - que determinados indivíduos ficariam melhores "em outro lugar", mas graças a Deus que não sou eu ou você que decidimos. Afinal, não é por acaso que a censura se identifica com os setores mais conservadores e cegos da sociedade. Veja o caso da estréia de Friends na China, que vive sob uma ditadura ferrenha. Os censores não sabiam o que fazer para exibir a série, porque "ela fala de sexo o tempo todo", segundo alegaram. Você certamente não gostaria de ver Friends depois de passar pela mão de alguém que tem essa óptica, certo? Nem eu. E ela nem seria Friends, com toda certeza!

Se hoje cortam uma obra fechada e acabada como Sex and the City em nome de alguma "moral" (qual delas?) ou "decência" (idem) ou "integridade" (de quê??) ou "valores religiosos" (absolutamente parciais), talvez amanhã seja a hora dos "gays indecentes" de Will & Grace ou Queer Eye. Ou quem sabe não condenar Supernatural, já que ela "pregaria o paganismo", ou Medium, já que "cristãos não acreditam em mediunidade", ou qualquer absurdo assim? O passo seguinte seria impedir Jack Bauer de usar ou sofrer violência em 24. Teríamos "24 Horas com a Turma de Moranguinho contra o Bobo, Feio e Mau Baixador de Música da Internet"...

This picture is hosted by ImageShackPor falar em 24 Horas, acaba de ser divulgado que a Globo se surpreendeu com a audiência de Lost, em sua estréia no último domingo. Isso não a impediu e não a impedirá de fazer exatamente o que fez com 24 em todas as temporadas que exibiu: cortar partes que ela, Globo, considerou "inúteis", "desnecessárias" ou, quem sabe, "ofensivas". Pergunto: você queria mesmo ver Lost e ficou no aguardo? Então, vai ter de pegar na locadora, porque a Globo está exibindo só o que ela quer, exatamente como fez com 24.

Isso simplesmente não se justifica e não se sustenta sob argumento algum (vide centenas de comentários de espectadores nada satisfeitos, como aqui). Na verdade, qualquer pseudo-explicação desaba por completo quando consideramos que as séries deram e vêm dando mais audiência do que o débil mental arrogante e sem graça chamado Jô Soares, o qual elas vêem substituir enquanto o apresentador está de férias. Num mundo sem censura, sem sacanagem e com uma autocrítica razoável, a Globo tiraria esse entojo do ar e poderia deixar o horário, por exemplo, para exibir na íntegra algumas boas séries por ano (e legendadas, mas aí é querer demais...). Material para isso não falta, a audiência já aprovou, haveria rotatividade no horário e o apresentador já deu o que tinha de dar há muitíssimo tempo, depois de anos grudando nas pessoas, liberando perdigotos, fingindo rir de piadas horríveis, interrompendo entrevistados, soltando comentários agressivos de ostentação intelectual e copiando muito mal o David Letterman em tudo o que pode e pôde.

Pelo jeito, a Globo não aprendeu (e nunca vai, não se iluda) com os protestos dos espectadores de 24 Horas nos anos anteriores e com a controvérsia que causou ao impedir o beijo gay no fim de uma novela recente (nem me pergunte qual).

This picture is hosted by ImageShackA coisa ainda pode se apresentar em sabores diferentes. O sempre esplendoroso canal Warner, por exemplo, nos traz outro, ao proibir a série The L Word de ser exibida em horário razoável e de ter propagandas veiculadas. Qual a razão disso? A equatoriana "Invasión" também só passa em um horário por semana, às 22h (perguntem ao canal o porquê disso, pois só ele sabe), e mesmo assim tem propagandas constantes. Qual seria a desculpa para enterrar The L Word, que é uma boa série, era exibida em horário compatível com seu teor (23h de domingo), tem público cativo, acaba de ser renovada para uma quarta temporada e, no começo, mostrava um ou outro lance por episódio e hoje nem isso? Alguns dirão que "pelo menos, a série continua sendo exibida". Seria um pensamento razoável, mas... alguém sabe disso? Afinal, a Warner censurou até suas (tradicionalmente péssimas) propagandas! Antes procurassem dar alguma chamada ocasional para a série, ao invés de "Lilí (sic) pega bandidos que aprontam demais da conta (sic)". Para a Warner, praticar homicídio ou estupro em Cold Case é "aprontar demais da conta". Autocrítica zero!

Vamos prestar um serviço um pouco melhor que o do canal e dizer claramente: The L Word tem sido exibida de sábado pra domingo, à 0h30 (e ainda varia), com todos os episódios da primeira temporada, que recentemente entrou em reprise de novo. Sabe do pior? Temos informações de que a série foi mutilada para exibição na Warner. Dupla, tripla, quádrupla censura... E nada de segunda temporada por aqui, nem em anúncio.

A auto-censura que se propõe implantar tacitamente nos canais - na verdade, uma regulamentação do bom senso, uma autocrítica saudável como a que finalmente jogou João Kléber na rua tarde demais - está muito mais em discussão para a TV aberta do que para o cabo. No cabo americano, por exemplo, é tudo muito mais liberal, porque assina quem quer, a oferta de pacotes é grande e a base de assinantes é, teoricamente, mais esclarecida e saberia lidar melhor com aspectos considerados polêmicos - sexo, fama, política, religião ou a própria metalinguagem televisiva. Veja a liberdade criativa das séries da HBO, por exemplo (e Sex and the City é uma delas). Enquanto isso, um canal a cabo brasileiro (que é ainda mais exclusivo) apresenta esse tipo de comportamento como se fosse um canal aberto com audiência e público de novela. Sim, senhores, estamos diante de mais um caso de warnerismo brabo!

Mas há casos em que a situação pode piorar bastante, quando o assunto que consideram "delicado" faz parte da essência da coisa. Por exemplo, imagine que fôssemos censurar Sex and the City e tudo o que haveria de "indecente" por ali. A série tem a palavra "sexo" no próprio nome! Como evitar que fale sobre isso e ocasionalmente mostre alguma coisa "a mais"? É o próprio conceito, não há como evitar... Além disso, dificilmente aparecia algo ali tão frontal assim com relação a apelações. Tinha insinuações aos milhares, muitas delas bem fortes, mas as cenas mais "gráficas", como dizem lá fora, mostravam um seio aqui, uma bunda ali e costumava ficar nisso mesmo. Corte qualquer parte disso e a própria compreensão do capítulo vai ficar comprometida. Se os pais ficarem preocupados com a questão dos diálogos, tudo se resolve com um conselho, uma proibição em casa, uma conversa, uma configuração do conversor de cabo ou várias outras alternativas. Em casos assim, o problema está no sujeito, não no objeto...

This picture is hosted by ImageShackQuando essa questão da essência chega ao canal como um todo, temos o TNT. Já comentei por aqui que séries como Veronica Mars ou Battlestar Galactica não serão discutidas neste espaço, pela razão mais simples do mundo: elas não são assistidas por quem escreve. O canal tem por tradição ("família e propriedade") destruir filmes de quaisquer gêneros, retirando cenas de violência, drogas, sexo, religião e palavreado chulo, não importa quantos minutos de corte isso represente ou quanto da compreensão do filme isso comprometa. Exibe uma vinheta de "recomendação" no começo dos filmes, mas elas de nada servem: o próprio canal se encarrega de tornar os filmes "apropriados para todas as idades"! Por exemplo, quando por milagre resolveu exibir o filme Matrix legendado, com o som original, chegou ao completo desplante de censurar diálogos em inglês, emudecendo qualquer "damn" ou "shit" que fosse pronunciado pelos atores. De repente, o som sumia, não havia legenda e a gente tinha de achar isso natural!

Desde então, nada mais de TNT. Vou à locadora, pego o filme inteiro e legendado (sem a péssima dublagem habitual) e vejo o que eu quero ver, com o que vier. É o que o diretor quis mostrar, é o que os atores toparam fazer, é o roteiro conforme planejado e com seu sentido intrínseco, sem intervenções de donos da verdade - e quem é algum diretorzinho de TV pra vir alterar uma obra? Me pergunto como foi que exibiram a cinebio The Doors, a vida altamente sexual e drogada de Jim Morrison, narrada por Oliver Stone e protagonizada por Val Kilmer. Deve ter durado 20 minutos de filme... This picture is hosted by ImageShack

01 fevereiro 2006

Mortas e feridas

(publicado originalmente em 1º de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 5 de novembro de 2006)


Antes de qualquer outra coisa, gostaria de agradecer imensamente ao Canal Sony por mudar boa parte da sua programação em função de um lixo chamado American Idol e sequer se preocupar em avisar seus espectadores com comerciais que certamente seriam mais relevantes que a porcariada da Polishop. Realmente, agradeço em nome de todos nós, espectadores desrespeitados.

***

É saudável a gente não se apegar muito às primeiras temporadas de séries de TV. Elas são como filhotes de cachorro ou a proposta da Wikipedia: nunca se sabe o que virá depois daquele começo bonitinho e promissor.

This picture is hosted by ImageShackA história da TV americana mostra que literalmente qualquer série, em qualquer momento, pode ser cancelada sem que haja uma explicação razoável aos olhos do público. Simplesmente não fica claro para os mortais aqui de baixo por que razão os senhores da mídia escolhem essa ou aquela série para descer o machado. Bom, claro que há aquela razão subjacente universal... Como dizia o sábio Garganta Profunda, "just follow the money". Nosso problema continua sendo entender o mecanismo que leva ao tal do money, e também por que diabos alguma série realmente boa não estava dando o retorno esperado. Ou estava, mas o buraco é mais embaixo, quem sabe...

This picture is hosted by ImageShackQue o digam os fãs das saudosas The $treet, Fastlane ou o pessoal que adorava Angel. Ou ainda alguns dos desenhos carros-chefes do bloco adultswim (Mission Hill, Undergrads, Clone High), todos ótimos e jamais renovados para segundas temporadas.

Pra falar "se vão, se ficam, quem vai, quem foi" na última revoada de coisas novas, vamos nos ater a quem pelo menos tentou chamar a atenção de algum modo. Mesmo assim, a lista é grandinha...

Na atual temporada, quem já levou a pior dentre as novatas que poderiam dar em algo foram Hot Properties e Reunion. Lembro que estou falando das que interessam! Em Sex, Love & Secrets (que nome estúpido, meu Deus!), por exemplo, cancelada depois de 8 episódios, a única coisa que interessava era Denise Richards - que, como é de conhecimento público, não sabe atuar e deveria continuar fazendo intermináveis sessões de fotos. Já The Inside e outras fazem parte do esquema "alguém lembra?".

This picture is hosted by ImageShackReunion é um caso interessante. A série só funcionaria se tivesse uma temporada inteira, porque segue o esquema de novela (como 24, por exemplo), em que os capítulos dependem uns dos outros. Deu tempo de This picture is hosted by ImageShackficarmos sabendo quem morreu (a Samantha, interpretada pela bela Alexa Davalos), mas, como sugere a propaganda da Warner, jamais saberemos quem a matou. A Fox deixou claro que um "final apropriado" simplesmente não será produzido pela rede, porque o criador da série não conseguiu idealizar algo condizente.

O mais perto que podemos chegar da conclusão é a declaração do verdadeiro assassino da série, o presidente da Fox, Peter Liguori. Depois do cancelamento por razões de audiência, ainda que a trama evoluísse razoavelmente bem, Liguori revelou que os escritores e a cúpula da rede planejavam creditar o crime à filha de Samantha e Will, Amy. Sinceramente, você achou mesmo que poderia ser algum dos outros cinco amigos, e os quatro restantes iriam acobertá-lo? Estavam protegendo alguém querido, mas de fora do círculo, é claro...

Só que não dá pra entender como Reunion, com uma trama legalzinha e até sólida (considerando o planejamento de temporada inteira), sai do ar com apenas 13 episódios e sem muitas explicações, enquanto Living With Fran ganha uma segunda temporada! Perde a TV, ganham os cofres da Fox... Aliás, se até a insuportável Kevin Hill conseguiu durar uma temporada inteira, com sua pseudo-trama batidíssima e sem atrativos, por que não dar a chance de Reunion pelo menos se explicar, dizer a que veio?

This picture is hosted by ImageShackThis picture is hosted by ImageShackAgora, convenhamos... Hot Properties tava bem dureza, hein?... Nicole Sullivan - talentosa, interessante, engraçada, bonita e esforçada - levava a série nas costas, com alguma ajuda ocasional das outras duas louras. Mas a fantástica colombiana Sofía Vergara recebe o mesmo conselho dado a Denise Richards: por favor, largue a TV imediatamente e vá tirar a roupa em duas mil revistas com urgência! O sotaque era irritante, a graça não tinha graça, sua personagem era um estereótipo dos piores...

Nem a beleza do quarteto segurou a falta de consistência daqueles roteiros que sequer conseguiam fechar as histórias. Raras boas idéias, muita coisa mal resolvida, falta de identidade... Mas quem sabe talvez isso nem seja assim um grande obstáculo. Veja os primeiros episódios de Friends ou Seinfeld, dois dos maiores sucessos da TV de todos os tempos, e você vai perceber que eles também patinavam nesses quesitos. De novo, pergunta-se: o que levou esse pessoal pra frente e impediu Hot Properties (e dezenas de outras, ao longo do tempo) de conseguir se firmar?

Outras séries, low-profile ou não, conseguiram uma sobrevida com os chamados "episódios extras". Isso não significa necessariamente uma temporada inteira. Não dá pra entender com muita clareza o que acontece depois que um piloto é aprovado, mas a coisa normalmente segue um fluxo: piloto aprovado, encomenda de 8 a 13 episódios, "período nebuloso", temporada completa, temporadas seguintes.

No tal do "período nebuloso", os executivos podem simplesmente dar uma espécie de segunda chance à série ou podem partir direto para a temporada completa. A segunda chance, momento para uma melhor apreciação da coisa e para os escritores realmente mostrarem serviço, foi dada a Related e Twins.

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A primeira é simpática e tem muito pra cair no gosto feminino. Com quatro mulheres lindas, o público masculino também agradece, claro... Os índices são bem razoáveis, não há muita dúvida de que a série vá se sair bem, se continuar como começou. Já Twins ainda procura se firmar. Ter Melanie Griffth no elenco é uma temeridade, e a eterna guerra "cérebro versus físico" já rendeu mais tramas do que as adaptações do Conto de Natal de Dickens. Sem falar no clichê-rei da loura burra... Vamos esperar.

This picture is hosted by ImageShackO mesmo vale para o balaio de gatos chamado Out of Practice, que ganhou episódios adicionais para sua primeira temporada. Só que o show não é tão ruim como se poderia esperar da união do "destruidor de séries" Christopher Gorham (Medical Investigation, Jake 2.0, Popular) com a refugiada eterna Stockard Channing, a linda Paula Marshall - também uma nômade pé-frio, depois de Cupid, Hidden Hills, The Flash e outras - e o nunca-mais-fiz-nada Henry "Fonzie" Winkler (a não ser o advogado de Arrested Development). Por incrível que pareça, tem mesmo alguma graça, ainda que nada de especial. Tudo em aberto...

This picture is hosted by ImageShackUm passo à frente está Everybody Hates Chris, que também ganhou episódios e ainda não garantiu sequer a temporada completa, quanto mais uma segunda. Entretanto, três fatores pesam por Chris: o pequeno canal UPN nunca tinha feito tanto sucesso com uma comédia - que aliás rendeu à rede sua primeira indicação a um Golden Globe - e tanto público quanto crítica adoraram as peripécias infanto-juvenis de Chris Rock. Por último, a UPN é uma das duas redes "menores" dos EUA que estão para formar o novo canal CW (a fusão será com o canal Warner americano). O trabalho por lá deve estar todo atrasado e confuso... Como foi dito até aqui, nada garante a série, mas, se tudo correr como deve, estamos esperando apenas o anúncio formal de mais e mais episódios.

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Melhor sorte teve Ghost Whisperer, bem cotada pela audiência e totalmente destruída pela crítica, com razão. Nem me animei a ver isso, apesar da beldade Jennifer Love-Hewitt (outra que deveria... sabe?), porque até as propagandas da coisa são enfadonhas. Mas o público bushense adorou, e a série foi aprovada para uma temporada completa.

No mesmo barco está Close to Home, do multi-homem Jerry Bruckheimer. A série explora mais um ramo diferente da extremamente desgastada atividade investigativa (contem comigo: CSI1, CSI2, CSI3, Without a Trace, Cold Case, Numb3rs, Law&Order1, Law&Order2, Law&Order3, Law&Order4, Monk e mais uma mão cheia), e mesmo assim conseguiu agrado suficiente pra completar a temporada.

This picture is hosted by ImageShackO resto do pessoal está daí pra cima. Medium é recente no Brasil, mas já está em segunda temporada nos EUA; Commander in Chief teve notícias estranhas recentemente, apesar do grande sucesso, mas garantiu sua primeira temporada inteira (novos episódios começarão em breve) e tem tudo para ser continuada; Invasion também conseguiu todos os episódios que queria, conquistou bons números nas últimas medições, mas ainda nada de nova temporada; Prison Break está em hiato, o que normalmente é mau sinal, mas apenas porque seu enorme sucesso não era previsto, e uma nova temporada está a caminho; e Supernatural, apesar de ser a melhor estréia recente da Warner (em This picture is hosted by ImageShacknúmeros), tem agora sua continuação levemente ameaçada, depois de ter assegurado com folga a temporada cheia. A série está na mesma situação de indecisão que Everybody Hates Chris, ou seja, ninguém sabe o que vai sair do nascimento do canal CW. Uma curiosidade que podemos dizer agora que sabemos que Sam Winchester tem mesmo uns poderes estranhos: num dos próximos episódios da série, Dean pergunta ao irmão "Quem você acha que é o paranormal mais atraente: Patricia Arquette, Jennifer Love-Hewitt ou você?", brincando exatamente com suas concorrentes. Muito legal!

This picture is hosted by ImageShackE, claro, temos a anomalia chamada Grey's Anatomy: estreou nos EUA em março de 2005 como tapa-buraco, ganhou uma audiência absurda, não completou uma primeira temporada "normal" (foram só nove capítulos exibidos à exaustão) e já está em sua segunda temporada, com mais sucesso do que nunca. É uma série-clichê legalzinha: mais hospital, mais mocinha, mais galã, mais choradeira, mais gente bonita, mais do mesmo. Mas com um toque extra de "jenessequá"... This picture is hosted by ImageShack