Os pingos nos Emmys

Parece redundante dizer que a entrega dos Emmys em 2006 foi exatamente isso, já que as cerimônias desse naipe são sempre quadradésimas, mas a mais recente teve motivos especiais para esse adjetivo. As surpresas positivas, em termos de prêmios, foram bem poucas, enquanto as negativas aconteceram em grande número. Já as questões que estavam realmente em discussão acabaram indo pelo caminho mais convencional, fugindo de novidades, da aclamação do público e deixando pra lá as inovações - o que não precisa ser algo assim tão ruim.
Mas vamos por partes.

Então, o que a NBC deveria fazer? Cancelar a espetacular seqüência pré-gravada? Mutilar a abertura, mantendo 24, The Office e as demais? Fazer um papelão pro mundo, ao invés de um pretenso papelão para meia-dúzia no Kentucky? Isso lembra aquela época em que qualquer coisa que remetesse a "duas torres" (incluindo até O Senhor dos Anéis!) passou a ser "proibido". Get over yourselves, stupid yankees!

Aaron Spelling, já falecido, foi o outro homenageado. Nada de grande novidade, já que o assunto foi discutido por um bom tempo antes da cerimônia, devido aos problemas envolvendo a herança milionária do produtor.

Os dramas na comédia
The Office, premiada como melhor série de comédia, vem mesmo numa carreira excepcional e levou um prêmio correto, sem sustos. Começou morna e já vem fervendo há muitos capítulos, realmente hilária, muito bem escrita e com atuações inspiradas. Só penso que Arrested Development merecia ganhar nessa categoria como consolação pelo seu cancelamento e como reconhecimento ao programa mais hilário e inteligente da TV durante seu curto percurso, sem qualquer comparação com outro show.

Aliás, estendendo o assunto, o FX mostrar The Office junto com My Name Is Earl (que nem foi indicada) tem sido covardia. Earl começou enormemente promissora e, depois de certo ponto, não cumpriu mais quase nada. As histórias atuais estão "muito sorriso, pouca risada". Não por acaso, a série acabou mesmo ganhando algo só pelo seu excelente piloto (em direção e roteiro) e duas categorias técnicas. Por outro lado, na categoria de melhor atriz coadjuvante em comédias, não apenas Jaime Pressly (a Joy) era a favorita como merecia levar o prêmio sem qualquer dúvida. Foi uma perda bastante injusta. Digo, Megan Mullally (Will & Grace) de novo pra quê??
Steve Carell, o chefe Michael Scott em The Office, foi outro injustiçado nesse sentido. Assim como Mullally bateu Pressly (ou mesmo Elizabeth Perkins, de Weeds) sem qualquer justificativa, dar o prêmio de melhor ator de série de comédia pela terceira vez para Tony Shalhoub (Monk) e negá-lo a Carell (ou até mesmo a Charlie Sheen) foi chover no molhado; foi lugar-comum e, considerando as outras opções, foi desmerecido mesmo. Até o próprio vencedor Shalhoub reconheceu isso!

Para melhor ator coadjuvante de série de comédia escolheram Jeremy Piven, que é realmente um ator bem talentoso, mas que eu nunca pude ver em Entourage. Dizem que a série é realmente ótima, mas HBO é muito caro... Eu já disse isso?

Só risadas no drama
Grey's Anatomy, com justiça, não levou absolutamente nada e vem sendo encarada por todos os fãs, colunistas e internautas em geral como a grande perdedora da noite. Tentando não ser muito parcial aqui, mantenho o que eu disse na Serial Frila anterior: trata-se de uma série cada vez mais aborrecida e mais enganadora em muitos aspectos. O grande público adora um novelão açucarado e pouco realista...
Um bom motivo para tentar ser imparcial acima é lembrar que Lost também foi uma das esnobadas - até mesmo em indicações, na verdade. No esquete de abertura com O'Brien, Hurley lamenta "Nós nem fomos convidados este ano...". Até agora, não se sabe bem o porquê disso, mas tanto Lost quanto Grey's são líderes de audiência e são da ABC. Alguma relação? Pelo menos os Emmys nos deram mais uma chance de ver Ellen Pompeo (Meredith Grey) e Evangeline Lilly (a Kate de Lost) como você vê nas imagens ao lado. Não precisa explicar muito...
A compensação veio na forma de 24. Afinal, que outra série vinha merecendo há tempos todos os prêmios possíveis nas categorias principais de drama? Não apenas foi eleita a melhor série dramática, mas também deu a Kiefer Sutherland o justíssimo reconhecimento como melhor ator de série dramática pelo papel de sua vida. Convenhamos, surpresa nenhuma e apenas a correção de um grande atraso. Antes tarde do que nunca. I'm a sucker for Jack Bauer...

24 ainda rendeu um prêmio de melhor direção ao esforçadíssimo Jon Cassar, que já comandou quase 100 episódios da série, e mais dois prêmios técnicos, em edição e trilha sonora.
Uma das grandes surpresas da noite ficou por conta de Mariska Hargitay como melhor atriz de série dramática por Law & Order: Special Victims Unit.

Como coadjuvantes em série dramática, venceram Alan Alda (The West Wing) e Blythe Danner (Huff). Foram ambos casos de supresa estranha e prêmio merecido ao mesmo tempo. Isso porque são realmente dois ótimos atores - não assisti às participações de nenhum dos dois em suas séries, mas são ótimos pelo conjunto do que eu já vira antes. Só que havia gente considerada bem mais forte nas categorias em questão. Para ficar no óbvio, Michael Imperioli (The Sopranos) e Gregory Itzin (24 Horas) estavam com tudo na seção masculina, e Sandra Oh e Chandra Wilson concorriam ambas pela favorita Grey's Anatomy. Bem, de forma alguma esses dois prêmios chegaram a ser problema. Para desbancar Grey's, Blythe Danner chegou até como solução...

Enquanto isso, no Brasil, Fernanda Young e Rita Lee pretendem ter um programa seriado juntas. O nome inicial: "As Erradas". Pelo menos começaram certo. E nem devem continuar por mais do que umas três edições, a não ser que pretensão afetada e senilidade inconveniente vendam alguma coisa.
