Serial Frila: Mortas e feridas

01 fevereiro 2006

Mortas e feridas

(publicado originalmente em 1º de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 5 de novembro de 2006)


Antes de qualquer outra coisa, gostaria de agradecer imensamente ao Canal Sony por mudar boa parte da sua programação em função de um lixo chamado American Idol e sequer se preocupar em avisar seus espectadores com comerciais que certamente seriam mais relevantes que a porcariada da Polishop. Realmente, agradeço em nome de todos nós, espectadores desrespeitados.

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É saudável a gente não se apegar muito às primeiras temporadas de séries de TV. Elas são como filhotes de cachorro ou a proposta da Wikipedia: nunca se sabe o que virá depois daquele começo bonitinho e promissor.

This picture is hosted by ImageShackA história da TV americana mostra que literalmente qualquer série, em qualquer momento, pode ser cancelada sem que haja uma explicação razoável aos olhos do público. Simplesmente não fica claro para os mortais aqui de baixo por que razão os senhores da mídia escolhem essa ou aquela série para descer o machado. Bom, claro que há aquela razão subjacente universal... Como dizia o sábio Garganta Profunda, "just follow the money". Nosso problema continua sendo entender o mecanismo que leva ao tal do money, e também por que diabos alguma série realmente boa não estava dando o retorno esperado. Ou estava, mas o buraco é mais embaixo, quem sabe...

This picture is hosted by ImageShackQue o digam os fãs das saudosas The $treet, Fastlane ou o pessoal que adorava Angel. Ou ainda alguns dos desenhos carros-chefes do bloco adultswim (Mission Hill, Undergrads, Clone High), todos ótimos e jamais renovados para segundas temporadas.

Pra falar "se vão, se ficam, quem vai, quem foi" na última revoada de coisas novas, vamos nos ater a quem pelo menos tentou chamar a atenção de algum modo. Mesmo assim, a lista é grandinha...

Na atual temporada, quem já levou a pior dentre as novatas que poderiam dar em algo foram Hot Properties e Reunion. Lembro que estou falando das que interessam! Em Sex, Love & Secrets (que nome estúpido, meu Deus!), por exemplo, cancelada depois de 8 episódios, a única coisa que interessava era Denise Richards - que, como é de conhecimento público, não sabe atuar e deveria continuar fazendo intermináveis sessões de fotos. Já The Inside e outras fazem parte do esquema "alguém lembra?".

This picture is hosted by ImageShackReunion é um caso interessante. A série só funcionaria se tivesse uma temporada inteira, porque segue o esquema de novela (como 24, por exemplo), em que os capítulos dependem uns dos outros. Deu tempo de This picture is hosted by ImageShackficarmos sabendo quem morreu (a Samantha, interpretada pela bela Alexa Davalos), mas, como sugere a propaganda da Warner, jamais saberemos quem a matou. A Fox deixou claro que um "final apropriado" simplesmente não será produzido pela rede, porque o criador da série não conseguiu idealizar algo condizente.

O mais perto que podemos chegar da conclusão é a declaração do verdadeiro assassino da série, o presidente da Fox, Peter Liguori. Depois do cancelamento por razões de audiência, ainda que a trama evoluísse razoavelmente bem, Liguori revelou que os escritores e a cúpula da rede planejavam creditar o crime à filha de Samantha e Will, Amy. Sinceramente, você achou mesmo que poderia ser algum dos outros cinco amigos, e os quatro restantes iriam acobertá-lo? Estavam protegendo alguém querido, mas de fora do círculo, é claro...

Só que não dá pra entender como Reunion, com uma trama legalzinha e até sólida (considerando o planejamento de temporada inteira), sai do ar com apenas 13 episódios e sem muitas explicações, enquanto Living With Fran ganha uma segunda temporada! Perde a TV, ganham os cofres da Fox... Aliás, se até a insuportável Kevin Hill conseguiu durar uma temporada inteira, com sua pseudo-trama batidíssima e sem atrativos, por que não dar a chance de Reunion pelo menos se explicar, dizer a que veio?

This picture is hosted by ImageShackThis picture is hosted by ImageShackAgora, convenhamos... Hot Properties tava bem dureza, hein?... Nicole Sullivan - talentosa, interessante, engraçada, bonita e esforçada - levava a série nas costas, com alguma ajuda ocasional das outras duas louras. Mas a fantástica colombiana Sofía Vergara recebe o mesmo conselho dado a Denise Richards: por favor, largue a TV imediatamente e vá tirar a roupa em duas mil revistas com urgência! O sotaque era irritante, a graça não tinha graça, sua personagem era um estereótipo dos piores...

Nem a beleza do quarteto segurou a falta de consistência daqueles roteiros que sequer conseguiam fechar as histórias. Raras boas idéias, muita coisa mal resolvida, falta de identidade... Mas quem sabe talvez isso nem seja assim um grande obstáculo. Veja os primeiros episódios de Friends ou Seinfeld, dois dos maiores sucessos da TV de todos os tempos, e você vai perceber que eles também patinavam nesses quesitos. De novo, pergunta-se: o que levou esse pessoal pra frente e impediu Hot Properties (e dezenas de outras, ao longo do tempo) de conseguir se firmar?

Outras séries, low-profile ou não, conseguiram uma sobrevida com os chamados "episódios extras". Isso não significa necessariamente uma temporada inteira. Não dá pra entender com muita clareza o que acontece depois que um piloto é aprovado, mas a coisa normalmente segue um fluxo: piloto aprovado, encomenda de 8 a 13 episódios, "período nebuloso", temporada completa, temporadas seguintes.

No tal do "período nebuloso", os executivos podem simplesmente dar uma espécie de segunda chance à série ou podem partir direto para a temporada completa. A segunda chance, momento para uma melhor apreciação da coisa e para os escritores realmente mostrarem serviço, foi dada a Related e Twins.

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A primeira é simpática e tem muito pra cair no gosto feminino. Com quatro mulheres lindas, o público masculino também agradece, claro... Os índices são bem razoáveis, não há muita dúvida de que a série vá se sair bem, se continuar como começou. Já Twins ainda procura se firmar. Ter Melanie Griffth no elenco é uma temeridade, e a eterna guerra "cérebro versus físico" já rendeu mais tramas do que as adaptações do Conto de Natal de Dickens. Sem falar no clichê-rei da loura burra... Vamos esperar.

This picture is hosted by ImageShackO mesmo vale para o balaio de gatos chamado Out of Practice, que ganhou episódios adicionais para sua primeira temporada. Só que o show não é tão ruim como se poderia esperar da união do "destruidor de séries" Christopher Gorham (Medical Investigation, Jake 2.0, Popular) com a refugiada eterna Stockard Channing, a linda Paula Marshall - também uma nômade pé-frio, depois de Cupid, Hidden Hills, The Flash e outras - e o nunca-mais-fiz-nada Henry "Fonzie" Winkler (a não ser o advogado de Arrested Development). Por incrível que pareça, tem mesmo alguma graça, ainda que nada de especial. Tudo em aberto...

This picture is hosted by ImageShackUm passo à frente está Everybody Hates Chris, que também ganhou episódios e ainda não garantiu sequer a temporada completa, quanto mais uma segunda. Entretanto, três fatores pesam por Chris: o pequeno canal UPN nunca tinha feito tanto sucesso com uma comédia - que aliás rendeu à rede sua primeira indicação a um Golden Globe - e tanto público quanto crítica adoraram as peripécias infanto-juvenis de Chris Rock. Por último, a UPN é uma das duas redes "menores" dos EUA que estão para formar o novo canal CW (a fusão será com o canal Warner americano). O trabalho por lá deve estar todo atrasado e confuso... Como foi dito até aqui, nada garante a série, mas, se tudo correr como deve, estamos esperando apenas o anúncio formal de mais e mais episódios.

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Melhor sorte teve Ghost Whisperer, bem cotada pela audiência e totalmente destruída pela crítica, com razão. Nem me animei a ver isso, apesar da beldade Jennifer Love-Hewitt (outra que deveria... sabe?), porque até as propagandas da coisa são enfadonhas. Mas o público bushense adorou, e a série foi aprovada para uma temporada completa.

No mesmo barco está Close to Home, do multi-homem Jerry Bruckheimer. A série explora mais um ramo diferente da extremamente desgastada atividade investigativa (contem comigo: CSI1, CSI2, CSI3, Without a Trace, Cold Case, Numb3rs, Law&Order1, Law&Order2, Law&Order3, Law&Order4, Monk e mais uma mão cheia), e mesmo assim conseguiu agrado suficiente pra completar a temporada.

This picture is hosted by ImageShackO resto do pessoal está daí pra cima. Medium é recente no Brasil, mas já está em segunda temporada nos EUA; Commander in Chief teve notícias estranhas recentemente, apesar do grande sucesso, mas garantiu sua primeira temporada inteira (novos episódios começarão em breve) e tem tudo para ser continuada; Invasion também conseguiu todos os episódios que queria, conquistou bons números nas últimas medições, mas ainda nada de nova temporada; Prison Break está em hiato, o que normalmente é mau sinal, mas apenas porque seu enorme sucesso não era previsto, e uma nova temporada está a caminho; e Supernatural, apesar de ser a melhor estréia recente da Warner (em This picture is hosted by ImageShacknúmeros), tem agora sua continuação levemente ameaçada, depois de ter assegurado com folga a temporada cheia. A série está na mesma situação de indecisão que Everybody Hates Chris, ou seja, ninguém sabe o que vai sair do nascimento do canal CW. Uma curiosidade que podemos dizer agora que sabemos que Sam Winchester tem mesmo uns poderes estranhos: num dos próximos episódios da série, Dean pergunta ao irmão "Quem você acha que é o paranormal mais atraente: Patricia Arquette, Jennifer Love-Hewitt ou você?", brincando exatamente com suas concorrentes. Muito legal!

This picture is hosted by ImageShackE, claro, temos a anomalia chamada Grey's Anatomy: estreou nos EUA em março de 2005 como tapa-buraco, ganhou uma audiência absurda, não completou uma primeira temporada "normal" (foram só nove capítulos exibidos à exaustão) e já está em sua segunda temporada, com mais sucesso do que nunca. É uma série-clichê legalzinha: mais hospital, mais mocinha, mais galã, mais choradeira, mais gente bonita, mais do mesmo. Mas com um toque extra de "jenessequá"... This picture is hosted by ImageShack