Cumieira
(publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2006)
(revisado e republicado aqui em 25 de outubro de 2006)
Aqui na minha terra (pelo menos), chama-se "festa da cumieira" a hora em que o pessoal comemora o fim da construção principal ao terminar a laje - ou "o cume", daí o nome. As coisas e pessoas progridem, dão uma parada pra analisar a situação, observam o que foi feito, fazem uma festinha e então recomeçam.
Nesta coluna, vamos ver como evoluíram séries criticadas, como ficam as opiniões, como podemos retificar as bobagens ditas antes e então tentar uma nova olhada, com atenção a algumas novas temporadas. Tudo ao mesmo tempo, se possível. Mas sem álcool pra mim, valeu.
Lá na primeira coluna, falei sobre Invasion (também conhecida na Warner como a paraguaia "Invasión"). Pretendo voltar atrás em um detalhe que escrevi por lá, mantendo o resto todo intacto. Falei que não existia sutileza na série. Há sutileza sim, muita, e ela veio como ponto positivo, o que significa uma certa contradição no andar da série.
Depois de reler o texto e assistir aos episódios mais recentes, posso dizer aquela "promessa de coisa ruim" está se concretizando aos poucos - bem aos poucos. A tal contradição estaria nisso: apesar de as evidências berrarem na cara dos envolvidos desde cedo, todo mundo mantinha cara de paisagem. Sobrava à série narrar coisa nenhuma. Sinceramente, os primeiros oito episódios podem facilmente ser comprimidos em uma hora. Era duvidosa? Eu falei lá que era e, até aquele momento, não havia razão nenhuma pra achar o contrário. Hoje, e com perspectivas de hoje, diria que está muito mais pra promissora.
A parte boa (e cada vez melhor!) é que, devagar e quase parando... não paramos! Finalmente estamos chegando em algum lugar. Os vários clichês do começo ficaram meio que estabelecidos e não são mais tão explorados, dando espaço a mais originalidade. Claro que outros continuam aparecendo, mas é uma série de TV...
Quando o assunto é clichê, infelizmente somos obrigados a dar outra olhada em Supernatural. Teve um momento da temporada até aqui em que eu ia escrever pros estúdios da Warner americana e propôr um novo nome: "Superficial". Convenhamos, superficialidade com altas doses de dramalhão fácil e ação estilizada são o traço mais característico do produtor e diretor McG, como vimos em Fastlane (cuja ação era excelente e tinha a Tiffani Thiessen, então, tanto faz se era superficial), The OC (mais sobre isso no futuro) e nos patéticos filmes d'As Panteras. O pobre aspirante a Tarantino se perde no excesso absurdo de referências que cola em cada capítulo, como se não conseguisse escrever algo de próprio punho e só então inserir algumas citações divertidas.
No mesmo episódio que eu mencionei em outra coluna, sobre Dean Winchester brincar com Ghost Whisperer e Medium (o que foi legal), nosso amigo McG enfiou uma sucessão tão desnecessária de citações que a coisa até perdeu o sentido. O mesmo Dean Winchester deu seu nome falso como "Nigel Tufnel", falou de personagens e filmes de Jack Nicholson, falou de clássicos do terror e, no recheio, mais nomes familiares, falas alheias, reconstituições, menções descaradas, lendas urbanas batidíssimas... Menos, rapaz! Cadê a originalidade?
As histórias principais andaram bem fraquinhas, enquanto a trama paralela da procura pelo pai vinha se fortalecendo e ficando bem mais interessante que o "monstro da semana". Aparece um mistério, os caras comparecem, a explicação sempre está no livro herdado, eles falam rapidinho a respeito pra gente ficar sabendo e resolvem como se fosse um boleto bancário. Estava ficando até maçante, na verdade... E é inexplicável que os mistérios investigados nunca sejam só mistérios humanos e tenham sempre de envolver assuntos sobrenaturais. "Claro", você diria, "é o nome da série!". Mas é coincidência demais que todas as investigações resultem no mesmo. Quer dizer que os Winchester nunca deram com a cara na porta? É uma busca bem conveniente... Nunca seguem uma pista falsa ou erram o caminho...
Então, a trama paralela tomou a frente e estamos voltando a uma boa trilha, com promessas de um desenvolvimento legal. Vamos esperar que tudo entre numa feliz convergência em futuro próximo - busca pelo pai e luta contra os bichos de outro mundo.
Mencionei Medium, e ela é outra que vem pedindo uma reavaliação. Começou ótima, com uma proposta simples - que se mantém - e as histórias continuam razoáveis. Eu preferiria que privilegiassem as policiais, mas é só questão de gosto, porque as mais "domésticas" não são ruins. Mas a execução, antes correta, anda cometendo umas derrapadas monstruosas. Os sonhos de Patricia Arquette estão cada vez mais cafonas, babacas e mal-construídos. E agora ela viu a filha dela na goela dum moleque?? Será que não havia metáforas ou recursos mais interessantes e menos... ridículos? Na contagem geral, continua sendo uma série que vale a pena, sim, vamos prestigiar e torcer para que se mantenha.
Ah, outro resgate de coluna anterior. Falo agora com relação àquela sobre censura. Mantendo tudo o que está lá, faltou acrescentar que essa nova exibição da Warner para The L Word, em condições miseráveis, vem ainda com um hilário "uncensored" ao lado do nome. Não apenas a série continua sofrendo a censura tácita que mencionei como a Warner então admite que a exibição anterior tinha sido podada. Com uma tentativa de conserto, o canal engana (porque ainda censura) e assume que enganou antes (exibindo versão editada sem mencionar o fato). Beleza de canal, realmente!
Quanto a Two And a Half Men, nada, absolutamente nada a alterar. Mas dá até vontade de xingar um monte quando a gente descobre o quanto Charlie Sheen é burro feito um pacote de Chips no bueiro. Casado com ninguém menos que a divindade Denise Richards e com uma filhinha nova em casa, o cara não conseguiu fugir do velho vício e foi "caçar prostitutas dúzias de vezes", segundo alegam as próprias (link fora do ar). E ainda comete a suprema orelhada de acidentalmente enviar pra esposa um email que era para uma das digníssimas, levando a um divórcio-relâmpago. Mas isso é só a vida pessoal. A série melhora a cada episódio e continua sendo uma das coisas mais engraçadas a que eu já assisti. Nos próximos capítulos, Charlie Harper e aquela professora de balé começam a namorar firme (feito piercing no pudim). Tenho minhas dúvidas sobre o desenvolvimento da coisa, mas sabe Deus o que virá disso...
Outras coisas se mantêm, creio eu. Related continua na mesma linha simpática-sentimentalóide, ER tenta criar pratos novos a partir de um requentado que vinha azedando há tempos, Smallville empilha lixo sobre besteira em cima de bobagem (o pacato fazendeiro original virou um candidato ao senado?? HAH!) e palmas para Will & Grace, que já rendeu o que deveria e teve o bom senso de anunciar sua última temporada descendo a ladeira com força. Uma que deveria ter feito o mesmo é That '70s Show, que já acabou faz umas três temporadas e ainda não descobriu isso. Tudo bem, também já anunciou seu fim, mas veio tarde demais, porque hoje a série já não rende nem esboço de sorriso e costuma dar é raiva. Uma pena, começou muito bem...
Enquanto isso, há quem consiga se reerguer com maestria. The King of Queens tem conseguido manter um fôlego incrível, mesmo depois de quase ser cancelada na última temporada por razões contratuais e de audiência. Com o fim de Everybody Loves Raymond, a CBS deu uma mexida em dias e horários de sua grade e a série de Kevin James e Leah Remini (já sem Nicole Sullivan, que foi para Hot Properties e deu de cara com um merecido cancelamento) foi bastante privilegiada. Os escritores têm mantido a série bem simples, com humor genuíno, as atuações continuam excelentes, a audiência foi lá em cima de novo e parece que o céu reabriu sobre a casa dos Heffernan.
Outra que andou patinando foi Joey, que entrou em sua segunda temporada subindo no telhado. Vem alternando tiradas ótimas com piadinhas e soluções óbvias demais e ficou sob séria ameaça de nem voltar para os episódios finais da temporada, depois de um recesso forçado. Agora, conseguiu sinal verde da NBC - pelo menos até o fim dessa segunda etapa. Dois problemas principais cercam a série. O primeiro eu digo por minha conta: é impressão ou o personagem Joey Tribbiani cada vez se distancia mais daquele que conhecemos em Friends? Se é uma derivada que quer fazer sucesso usando um personagem preexistente, então, que mantenham o personagem. Mas ele anda meio arrogante demais, agressivo demais, "espertinho" demais e até mesmo um pouco burro demais, por contraditório que possa parecer. O segundo problema é que American Idol vai ao ar no mesmo horário, pela rede CBS. Ou seja, se não levantar audiência, bye bye, Joey.
Pessoalmente, credito muito da melhora recente a Andrea Anders (a vizinha Alex), que não apenas conseguiu ficar ainda mais bonita, como também, de algum modo, dobrou de rendimento em sua atuação. Deram espaço para a louca da Jennifer Coolidge (a empresária) e criaram Zach (Miguel Nuñez), o amigo ator. Os roteiros estão um pouquinho mais inteligentes também, no geral, mas aquela impressão inicial da série, que espantou um monte de gente e em especial os fãs de Friends, ainda vai ser complicada de driblar.
Sobre o recomeço, vamos ficar, por enquanto, com o pessoal que reestreou no Brasil esta semana. Desperate Housewives recomeçou corretíssima e no mesmo passo em que vinha: desenvolvimento natural da história, mais revelações chocantes, mais mistérios para uma temporada inteira, mais insanidade feminina e a mesma dose de diversão. Grey's Anatomy, por outro lado, saiu do cantinho dos despretensiosos e dá pra perceber, no elenco e na trama, que a série se apresenta com outro clima. Também retomou do exato ponto em que parou, sem problemas, e parece que vai se sair bem.
Tive uma certa decepção com a nova temporada de Scrubs. Não tenho dúvidas de que ainda é uma das melhores séries na TV, mas esse quinto ano começou bastante fraco, especialmente se comparado com todo o resto da série ou com os capítulos de estréia anteriores. Foi um excesso de gracinhas, um apelo fácil demais ao pastelão e àquela maluquice que sempre esteve presente. Não precisava disso... Os episódios seguintes vêm reerguendo a coisa, e a Dra. Reid readmitida no hospital Sacred Heart (numa ótima reviravolta, aliás) já é um bom indício. Infelizmente, o elenco fica mais caricato a cada dia e isso pode enterrar a série precocemente.
E quando diabos a Fox vai anunciar a volta de Nip/Tuck? A terceira temporada, que teve meros 14 episódios (contra 13 na primeira e 16 na segunda), começou a ser exibida em setembro lá fora e já até acabou. O brasileiro Bruno Campos, convidado no fim da temporada anterior, vira um personagem fixo, e o primeiro capítulo gerou um pau danado entre os ianques.
Quem mais estreou mesmo? Ah, sim, Beautiful People. Finja que não existe. A série vem de um canal "família" e é aquela chatura à la 7th Heaven, entupida de clichês adolescentes. Está atualmente em suspenso com poucas chances de retorno. O que impressiona é a semelhança
entre a mãe e a filha, belíssimas. São elas a veterana Daphne Zuniga (American Dreams, Melrose Place e a "princesa Leia" da paródia Spaceballs) e a novata Sarah Foret, uma graça de menina.
E, claro, há American 'Fucking' Idol. Não vejo, não vi, não verei, por mais que alguns amigos digam que é engraçado demais. Um programa que transforma gente como Clay Aiken, Fantasia Barrino, Kelly Clarkson e William Hung (!) em celebridades não merece qualquer respeito... Menos ainda o tal Simon enrustido...
(revisado e republicado aqui em 25 de outubro de 2006)
Aqui na minha terra (pelo menos), chama-se "festa da cumieira" a hora em que o pessoal comemora o fim da construção principal ao terminar a laje - ou "o cume", daí o nome. As coisas e pessoas progridem, dão uma parada pra analisar a situação, observam o que foi feito, fazem uma festinha e então recomeçam.
Nesta coluna, vamos ver como evoluíram séries criticadas, como ficam as opiniões, como podemos retificar as bobagens ditas antes e então tentar uma nova olhada, com atenção a algumas novas temporadas. Tudo ao mesmo tempo, se possível. Mas sem álcool pra mim, valeu.
Lá na primeira coluna, falei sobre Invasion (também conhecida na Warner como a paraguaia "Invasión"). Pretendo voltar atrás em um detalhe que escrevi por lá, mantendo o resto todo intacto. Falei que não existia sutileza na série. Há sutileza sim, muita, e ela veio como ponto positivo, o que significa uma certa contradição no andar da série.
Depois de reler o texto e assistir aos episódios mais recentes, posso dizer aquela "promessa de coisa ruim" está se concretizando aos poucos - bem aos poucos. A tal contradição estaria nisso: apesar de as evidências berrarem na cara dos envolvidos desde cedo, todo mundo mantinha cara de paisagem. Sobrava à série narrar coisa nenhuma. Sinceramente, os primeiros oito episódios podem facilmente ser comprimidos em uma hora. Era duvidosa? Eu falei lá que era e, até aquele momento, não havia razão nenhuma pra achar o contrário. Hoje, e com perspectivas de hoje, diria que está muito mais pra promissora.A parte boa (e cada vez melhor!) é que, devagar e quase parando... não paramos! Finalmente estamos chegando em algum lugar. Os vários clichês do começo ficaram meio que estabelecidos e não são mais tão explorados, dando espaço a mais originalidade. Claro que outros continuam aparecendo, mas é uma série de TV...
Quando o assunto é clichê, infelizmente somos obrigados a dar outra olhada em Supernatural. Teve um momento da temporada até aqui em que eu ia escrever pros estúdios da Warner americana e propôr um novo nome: "Superficial". Convenhamos, superficialidade com altas doses de dramalhão fácil e ação estilizada são o traço mais característico do produtor e diretor McG, como vimos em Fastlane (cuja ação era excelente e tinha a Tiffani Thiessen, então, tanto faz se era superficial), The OC (mais sobre isso no futuro) e nos patéticos filmes d'As Panteras. O pobre aspirante a Tarantino se perde no excesso absurdo de referências que cola em cada capítulo, como se não conseguisse escrever algo de próprio punho e só então inserir algumas citações divertidas.No mesmo episódio que eu mencionei em outra coluna, sobre Dean Winchester brincar com Ghost Whisperer e Medium (o que foi legal), nosso amigo McG enfiou uma sucessão tão desnecessária de citações que a coisa até perdeu o sentido. O mesmo Dean Winchester deu seu nome falso como "Nigel Tufnel", falou de personagens e filmes de Jack Nicholson, falou de clássicos do terror e, no recheio, mais nomes familiares, falas alheias, reconstituições, menções descaradas, lendas urbanas batidíssimas... Menos, rapaz! Cadê a originalidade?
As histórias principais andaram bem fraquinhas, enquanto a trama paralela da procura pelo pai vinha se fortalecendo e ficando bem mais interessante que o "monstro da semana". Aparece um mistério, os caras comparecem, a explicação sempre está no livro herdado, eles falam rapidinho a respeito pra gente ficar sabendo e resolvem como se fosse um boleto bancário. Estava ficando até maçante, na verdade... E é inexplicável que os mistérios investigados nunca sejam só mistérios humanos e tenham sempre de envolver assuntos sobrenaturais. "Claro", você diria, "é o nome da série!". Mas é coincidência demais que todas as investigações resultem no mesmo. Quer dizer que os Winchester nunca deram com a cara na porta? É uma busca bem conveniente... Nunca seguem uma pista falsa ou erram o caminho...
Então, a trama paralela tomou a frente e estamos voltando a uma boa trilha, com promessas de um desenvolvimento legal. Vamos esperar que tudo entre numa feliz convergência em futuro próximo - busca pelo pai e luta contra os bichos de outro mundo.
Mencionei Medium, e ela é outra que vem pedindo uma reavaliação. Começou ótima, com uma proposta simples - que se mantém - e as histórias continuam razoáveis. Eu preferiria que privilegiassem as policiais, mas é só questão de gosto, porque as mais "domésticas" não são ruins. Mas a execução, antes correta, anda cometendo umas derrapadas monstruosas. Os sonhos de Patricia Arquette estão cada vez mais cafonas, babacas e mal-construídos. E agora ela viu a filha dela na goela dum moleque?? Será que não havia metáforas ou recursos mais interessantes e menos... ridículos? Na contagem geral, continua sendo uma série que vale a pena, sim, vamos prestigiar e torcer para que se mantenha.Ah, outro resgate de coluna anterior. Falo agora com relação àquela sobre censura. Mantendo tudo o que está lá, faltou acrescentar que essa nova exibição da Warner para The L Word, em condições miseráveis, vem ainda com um hilário "uncensored" ao lado do nome. Não apenas a série continua sofrendo a censura tácita que mencionei como a Warner então admite que a exibição anterior tinha sido podada. Com uma tentativa de conserto, o canal engana (porque ainda censura) e assume que enganou antes (exibindo versão editada sem mencionar o fato). Beleza de canal, realmente!
Quanto a Two And a Half Men, nada, absolutamente nada a alterar. Mas dá até vontade de xingar um monte quando a gente descobre o quanto Charlie Sheen é burro feito um pacote de Chips no bueiro. Casado com ninguém menos que a divindade Denise Richards e com uma filhinha nova em casa, o cara não conseguiu fugir do velho vício e foi "caçar prostitutas dúzias de vezes", segundo alegam as próprias (link fora do ar). E ainda comete a suprema orelhada de acidentalmente enviar pra esposa um email que era para uma das digníssimas, levando a um divórcio-relâmpago. Mas isso é só a vida pessoal. A série melhora a cada episódio e continua sendo uma das coisas mais engraçadas a que eu já assisti. Nos próximos capítulos, Charlie Harper e aquela professora de balé começam a namorar firme (feito piercing no pudim). Tenho minhas dúvidas sobre o desenvolvimento da coisa, mas sabe Deus o que virá disso...Outras coisas se mantêm, creio eu. Related continua na mesma linha simpática-sentimentalóide, ER tenta criar pratos novos a partir de um requentado que vinha azedando há tempos, Smallville empilha lixo sobre besteira em cima de bobagem (o pacato fazendeiro original virou um candidato ao senado?? HAH!) e palmas para Will & Grace, que já rendeu o que deveria e teve o bom senso de anunciar sua última temporada descendo a ladeira com força. Uma que deveria ter feito o mesmo é That '70s Show, que já acabou faz umas três temporadas e ainda não descobriu isso. Tudo bem, também já anunciou seu fim, mas veio tarde demais, porque hoje a série já não rende nem esboço de sorriso e costuma dar é raiva. Uma pena, começou muito bem...
Enquanto isso, há quem consiga se reerguer com maestria. The King of Queens tem conseguido manter um fôlego incrível, mesmo depois de quase ser cancelada na última temporada por razões contratuais e de audiência. Com o fim de Everybody Loves Raymond, a CBS deu uma mexida em dias e horários de sua grade e a série de Kevin James e Leah Remini (já sem Nicole Sullivan, que foi para Hot Properties e deu de cara com um merecido cancelamento) foi bastante privilegiada. Os escritores têm mantido a série bem simples, com humor genuíno, as atuações continuam excelentes, a audiência foi lá em cima de novo e parece que o céu reabriu sobre a casa dos Heffernan.
Outra que andou patinando foi Joey, que entrou em sua segunda temporada subindo no telhado. Vem alternando tiradas ótimas com piadinhas e soluções óbvias demais e ficou sob séria ameaça de nem voltar para os episódios finais da temporada, depois de um recesso forçado. Agora, conseguiu sinal verde da NBC - pelo menos até o fim dessa segunda etapa. Dois problemas principais cercam a série. O primeiro eu digo por minha conta: é impressão ou o personagem Joey Tribbiani cada vez se distancia mais daquele que conhecemos em Friends? Se é uma derivada que quer fazer sucesso usando um personagem preexistente, então, que mantenham o personagem. Mas ele anda meio arrogante demais, agressivo demais, "espertinho" demais e até mesmo um pouco burro demais, por contraditório que possa parecer. O segundo problema é que American Idol vai ao ar no mesmo horário, pela rede CBS. Ou seja, se não levantar audiência, bye bye, Joey.
Pessoalmente, credito muito da melhora recente a Andrea Anders (a vizinha Alex), que não apenas conseguiu ficar ainda mais bonita, como também, de algum modo, dobrou de rendimento em sua atuação. Deram espaço para a louca da Jennifer Coolidge (a empresária) e criaram Zach (Miguel Nuñez), o amigo ator. Os roteiros estão um pouquinho mais inteligentes também, no geral, mas aquela impressão inicial da série, que espantou um monte de gente e em especial os fãs de Friends, ainda vai ser complicada de driblar.Sobre o recomeço, vamos ficar, por enquanto, com o pessoal que reestreou no Brasil esta semana. Desperate Housewives recomeçou corretíssima e no mesmo passo em que vinha: desenvolvimento natural da história, mais revelações chocantes, mais mistérios para uma temporada inteira, mais insanidade feminina e a mesma dose de diversão. Grey's Anatomy, por outro lado, saiu do cantinho dos despretensiosos e dá pra perceber, no elenco e na trama, que a série se apresenta com outro clima. Também retomou do exato ponto em que parou, sem problemas, e parece que vai se sair bem.
Tive uma certa decepção com a nova temporada de Scrubs. Não tenho dúvidas de que ainda é uma das melhores séries na TV, mas esse quinto ano começou bastante fraco, especialmente se comparado com todo o resto da série ou com os capítulos de estréia anteriores. Foi um excesso de gracinhas, um apelo fácil demais ao pastelão e àquela maluquice que sempre esteve presente. Não precisava disso... Os episódios seguintes vêm reerguendo a coisa, e a Dra. Reid readmitida no hospital Sacred Heart (numa ótima reviravolta, aliás) já é um bom indício. Infelizmente, o elenco fica mais caricato a cada dia e isso pode enterrar a série precocemente.
E quando diabos a Fox vai anunciar a volta de Nip/Tuck? A terceira temporada, que teve meros 14 episódios (contra 13 na primeira e 16 na segunda), começou a ser exibida em setembro lá fora e já até acabou. O brasileiro Bruno Campos, convidado no fim da temporada anterior, vira um personagem fixo, e o primeiro capítulo gerou um pau danado entre os ianques.Quem mais estreou mesmo? Ah, sim, Beautiful People. Finja que não existe. A série vem de um canal "família" e é aquela chatura à la 7th Heaven, entupida de clichês adolescentes. Está atualmente em suspenso com poucas chances de retorno. O que impressiona é a semelhança
entre a mãe e a filha, belíssimas. São elas a veterana Daphne Zuniga (American Dreams, Melrose Place e a "princesa Leia" da paródia Spaceballs) e a novata Sarah Foret, uma graça de menina.E, claro, há American 'Fucking' Idol. Não vejo, não vi, não verei, por mais que alguns amigos digam que é engraçado demais. Um programa que transforma gente como Clay Aiken, Fantasia Barrino, Kelly Clarkson e William Hung (!) em celebridades não merece qualquer respeito... Menos ainda o tal Simon enrustido...
O comentário em questão foi feito com relação à série Sex And The City, antes exibida pelo canal Multishow e hoje reprisada exaustivamente pela Fox, segundo contou o leitor. Curiosamente, ele pergunta se não deveria haver censura nos episódios que são reexibidos muito cedo e com todas aquelas insinuações de sexo (na verdade, estão mais para demonstrações, mesmo) e demais situações, digamos, íntimas. Deixo claro que ele pergunta, e não necessariamente pede que haja.
Moderação na forma de autocrítica e bom-senso sempre são proveitosos, mas a censura por excesso de zelo é um veneno que deve ser erradicado sem dó, porque é algo sem controle. Uma vez que se permite um precedente, não se sabe o que virá depois. É como a pena de morte: todo mundo acha - eu incluído - que determinados indivíduos ficariam melhores "em outro lugar", mas graças a Deus que não sou eu ou você que decidimos. Afinal, não é por acaso que a censura se identifica com os setores mais conservadores e cegos da sociedade. Veja o caso da estréia de Friends na China, que vive sob uma ditadura ferrenha. Os censores não sabiam o que fazer para exibir a série, porque "ela fala de sexo o tempo todo", segundo
Por falar em 24 Horas, acaba de ser divulgado que a Globo se surpreendeu com a audiência de Lost, em sua estréia no último domingo. Isso não a impediu e não a impedirá de fazer exatamente o que fez com 24 em todas as temporadas que exibiu: cortar partes que ela, Globo, considerou "inúteis", "desnecessárias" ou, quem sabe, "ofensivas". Pergunto: você queria mesmo ver Lost e ficou no aguardo? Então, vai ter de pegar na locadora, porque a Globo está exibindo só o que ela quer, exatamente como fez com 24.
A coisa ainda pode se apresentar em sabores diferentes. O sempre esplendoroso canal Warner, por exemplo, nos traz outro, ao proibir a série The L Word de ser exibida em horário razoável e de ter propagandas veiculadas. Qual a razão disso? A equatoriana "Invasión" também só passa em um horário por semana, às 22h (perguntem ao canal o porquê disso, pois só ele sabe), e mesmo assim tem propagandas constantes. Qual seria a desculpa para enterrar The L Word, que é uma boa série, era exibida em horário compatível com seu teor (23h de domingo), tem público cativo,
Quando essa questão da essência chega ao canal como um todo, temos o TNT. Já comentei por aqui que séries como Veronica Mars ou Battlestar Galactica não serão discutidas neste espaço, pela razão mais simples do mundo: elas não são assistidas por quem escreve. O canal tem por tradição ("família e propriedade") destruir filmes de quaisquer gêneros, retirando cenas de violência, drogas, sexo, religião e palavreado chulo, não importa quantos minutos de corte isso represente ou quanto da compreensão do filme isso comprometa. Exibe uma vinheta de "recomendação" no começo dos filmes, mas elas de nada servem: o próprio canal se encarrega de tornar os filmes "apropriados para todas as idades"! Por exemplo, quando por milagre resolveu exibir o filme Matrix legendado, com o som original, chegou ao completo desplante de censurar diálogos em inglês, emudecendo qualquer "damn" ou "shit" que fosse pronunciado pelos atores. De repente, o som sumia, não havia legenda e a gente tinha de achar isso natural!
A história da TV americana mostra que literalmente qualquer série, em qualquer momento, pode ser cancelada sem que haja uma explicação razoável aos olhos do público. Simplesmente não fica claro para os mortais aqui de baixo por que razão os senhores da mídia escolhem essa ou aquela série para descer o machado. Bom, claro que há aquela razão subjacente universal... Como dizia o sábio Garganta Profunda, "just follow the money". Nosso problema continua sendo entender o mecanismo que leva ao tal do money, e também por que diabos alguma série realmente boa não estava dando o retorno esperado. Ou estava, mas o buraco é mais embaixo, quem sabe...
Que o digam os fãs das saudosas The $treet, Fastlane ou o pessoal que adorava Angel. Ou ainda alguns dos desenhos carros-chefes do bloco adultswim (Mission Hill, Undergrads, Clone High), todos ótimos e jamais renovados para segundas temporadas.
Reunion é um caso interessante. A série só funcionaria se tivesse uma temporada inteira, porque segue o esquema de novela (como 24, por exemplo), em que os capítulos dependem uns dos outros. Deu tempo de
ficarmos sabendo quem morreu (a Samantha, interpretada pela bela Alexa Davalos), mas, como sugere a propaganda da Warner, jamais saberemos quem a matou. A Fox deixou claro que um "final apropriado" simplesmente não será produzido pela rede, porque o criador da série não conseguiu idealizar algo condizente.
Agora, convenhamos... Hot Properties tava bem dureza, hein?... Nicole Sullivan - talentosa, interessante, engraçada, bonita e esforçada - levava a série nas costas, com alguma ajuda ocasional das outras duas louras. Mas a fantástica colombiana Sofía Vergara recebe o mesmo conselho dado a Denise Richards: por favor, largue a TV imediatamente e vá tirar a roupa em duas mil revistas com urgência! O sotaque era irritante, a graça não tinha graça, sua personagem era um estereótipo dos piores...

O mesmo vale para o balaio de gatos chamado Out of Practice, que ganhou episódios adicionais para sua primeira temporada. Só que o show não é tão ruim como se poderia esperar da união do "destruidor de séries" Christopher Gorham (Medical Investigation, Jake 2.0, Popular) com a refugiada eterna Stockard Channing, a linda Paula Marshall - também uma nômade pé-frio, depois de Cupid, Hidden Hills, The Flash e outras - e o nunca-mais-fiz-nada Henry "Fonzie" Winkler (a não ser o advogado de Arrested Development). Por incrível que pareça, tem mesmo alguma graça, ainda que nada de especial. Tudo em aberto...
Um passo à frente está Everybody Hates Chris, que também ganhou episódios e ainda não garantiu sequer a temporada completa, quanto mais uma segunda. Entretanto, três fatores pesam por Chris: o pequeno canal UPN nunca tinha feito tanto sucesso com uma comédia - que aliás rendeu à rede sua primeira indicação a um Golden Globe - e tanto público quanto crítica adoraram as peripécias infanto-juvenis de Chris Rock. Por último, a UPN é uma das duas redes "menores" dos EUA que estão para formar o novo canal CW (a fusão será com o canal Warner americano). O trabalho por lá deve estar todo atrasado e confuso... Como foi dito até aqui, nada garante a série, mas, se tudo correr como deve, estamos esperando apenas o anúncio formal de mais e mais episódios.

O resto do pessoal está daí pra cima. Medium é recente no Brasil, mas já está em segunda temporada nos EUA; Commander in Chief teve notícias estranhas recentemente, apesar do grande sucesso, mas garantiu sua primeira temporada inteira (novos episódios começarão em breve) e tem tudo para ser continuada; Invasion também conseguiu todos os episódios que queria, conquistou bons números nas últimas medições, mas ainda nada de nova temporada; Prison Break está em hiato, o que normalmente é mau sinal, mas apenas porque seu enorme sucesso não era previsto, e uma nova temporada está a caminho; e Supernatural, apesar de ser a melhor estréia recente da Warner (em
números), tem agora sua continuação levemente ameaçada, depois de ter assegurado com folga a temporada cheia. A série está na mesma situação de indecisão que Everybody Hates Chris, ou seja, ninguém sabe o que vai sair do nascimento do canal CW. Uma curiosidade que podemos dizer agora que sabemos que Sam Winchester tem mesmo uns poderes estranhos: num dos próximos episódios da série, Dean pergunta ao irmão "Quem você acha que é o paranormal mais atraente: Patricia Arquette, Jennifer Love-Hewitt ou você?", brincando exatamente com suas concorrentes. Muito legal!
E, claro, temos a anomalia chamada Grey's Anatomy: estreou nos EUA em março de 2005 como tapa-buraco, ganhou uma audiência absurda, não completou uma primeira temporada "normal" (foram só nove capítulos exibidos à exaustão) e já está em sua segunda temporada, com mais sucesso do que nunca. É uma série-clichê legalzinha: mais hospital, mais mocinha, mais galã, mais choradeira, mais gente bonita, mais do mesmo. Mas com um toque extra de "jenessequá"... 
